A história tem trinta
e dois anos.
Decorria a
campanha eleitoral para a presidência da República, a segunda desde a revolução.
De entre os
candidatos, destacavam-se como “favoritos” Ramalho Eanes, que se recandidatava a
um segundo mandato e Soares Carneiro, que contra ele concorria.
Fora decidido
fazer entrevistas a solo com cada um dos candidatos dia sim dia não, e a ordem
dessas entrevistas seria a inversa à da respectiva base de apoio. Todas
conduzidas pela mesma pessoa, uma jornalista da casa. De igual forma, fora
decidido que a equipa técnica deveria ser a mesma, por motivos de pluralidade e
igualdade de tratamento. Eu fui um deles.
Logo aquando da
primeira gravação (porque eram gravadas) fiquei furioso. A jornalista vestia um
fato saia/casaco em veludo azul-escuro, o que era do piorio em termos de imagem
televisiva. Consoante o ângulo da câmara e a incidência da luz, assim o veludo
assumia tons diversos, sendo uma trabalheira conseguir que mantivesse o mesmo
azul de origem. Disse, então, “cobras e lagartos” da jornalista, que sabia,
como todos os profissionais de televisão, que tal tecido não era passível de
ser usado.
Foram inconsequentes
os meus protestos, e a entrevista foi assim gravada. Tal como todas as outras
nos dias seguintes, até que chegou a vez de Soares Carneiro, o oponente directo
a Eanes.
Nesse dia, a
jornalista apresentou-se em estúdio com um vestido creme, com umas estampagens de
folhas verde pálidas. Recordo ter dito, em tom de brincadeira, que ela teria
entornado o prato de sopa e mandado o fato para a lavandaria.
Dois dias depois foi
a vez da última entrevista, desta feita com Eanes. E ela voltou a usar o
maldito fato azul-escuro de veludo.
Disse eu o que
gostaram e não gostaram de ouvir. Que, e para além das questões técnicas e do
vigorava como normas sob o nome de “palete de cor” (estávamos a começar a fazer
televisão a cor em Portugal e estas questões eram levadas particularmente a sério),
esta mudança de vestuário não seria nem casual nem inocente, no que respeita a,
com ela, influenciar subjectivamente, o público.
Disse-o então e
continuo convicto do mesmo, passados todos estes anos e tanta gente em frente
da minha consola ou objectiva.
O nome da
jornalista em causa? Não o digo!
Foi ela minha
colega de trabalho, foi ela minha colega de liceu e, dizem as regras de
etiqueta, não fica bem falar mal dos que já morreram.
Aqueles que ainda
por cá estão e que se recordem do episódio poderão atestar da veracidade da
coisa.
Mas fica a história
e fica o exemplo de como, com gestos subtis ou nem tanto, se podem “mandar
recados”. Mesmo que pareçam ser deslizes infelizes.
By me
2 comentários:
Não se bate nos mortos, mas a jornalista em causa tinha um evidente alinhamento ideológico que colidia com um isento desempenho da profissão.
A jornalista que morreu hoje era alinhada partidariamente, mas não se bate nos mortos.
Caso encerrado.
DIGO EU.
Esse tipo de "jornalismo" ganhou raízes e agora esá por todo o lado.
Enviar um comentário