quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Uma visão comprometida




O local que tínhamos escolhido para acampar estava interdito. Pelo que continuámos, de mochila às costas, em busca de outro.
A escolha recaiu num terreiro, bem liso e horizontal, mesmo ao lado de uma igreja, numa aldeola próxima.
Além da “barraca” que armámos, montámos a tenda e comemos do farnel que levávamos. E, citadinos que éramos, decidimos ir tomar um café no tasco, do outro lado da rua e da igreja.
Mesas de pedra, copos de vinho, dominó… Chegados ao balcão, pedimos as bicas. E fez-se um silêncio denso, pesado. Entreolhámo-nos e olhámos em redor, tentando perceber o que havíamos dito ou feito.
Nessa noite não havíamos feito, que eram colegas que o estavam a fazer.
Num velho televisor, alto na parede, havia começado o telejornal e todos ali paravam para o ver.
Nessa noite aprendi, mais que de qualquer outra forma, algo que nunca mais esqueci, tantos anos que já passaram:
Que aquilo que fazemos, por vezes com a displicência do quotidiano, são os olhos e os ouvidos dos nossos concidadãos para o mundo.

E isso que fizemos, fazemos e queremos continuar a fazer, entalados entre poderes políticos e económicos e permanentemente escrutinados pelas entidades que o devem fazer e pela população, chama-se serviço público de rádio e de televisão.
Sem pressões de audiências, sem pressões económicas, sem accionistas que querem apenas ver o seu investimento lucrar.
Mas se fecharem um ou mais dos canais de rádio e de televisão, se privatizarem os restantes ao sabor de teimosias políticas e pseudo imposições orçamentais, a preço da chuva, os dominós continuarão a serem virados, tal como os copos, porque quem estiver sentado à mesa saberá que ver a RTP será o mesmo que ver qualquer outro canal.

By me

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