O local que tínhamos
escolhido para acampar estava interdito. Pelo que continuámos, de mochila às
costas, em busca de outro.
A escolha recaiu
num terreiro, bem liso e horizontal, mesmo ao lado de uma igreja, numa aldeola
próxima.
Além da “barraca”
que armámos, montámos a tenda e comemos do farnel que levávamos. E, citadinos
que éramos, decidimos ir tomar um café no tasco, do outro lado da rua e da
igreja.
Mesas de pedra,
copos de vinho, dominó… Chegados ao balcão, pedimos as bicas. E fez-se um silêncio
denso, pesado. Entreolhámo-nos e olhámos em redor, tentando perceber o que havíamos
dito ou feito.
Nessa noite não havíamos
feito, que eram colegas que o estavam a fazer.
Num velho
televisor, alto na parede, havia começado o telejornal e todos ali paravam para
o ver.
Nessa noite
aprendi, mais que de qualquer outra forma, algo que nunca mais esqueci, tantos
anos que já passaram:
Que aquilo que
fazemos, por vezes com a displicência do quotidiano, são os olhos e os ouvidos
dos nossos concidadãos para o mundo.
E isso que fizemos,
fazemos e queremos continuar a fazer, entalados entre poderes políticos e económicos
e permanentemente escrutinados pelas entidades que o devem fazer e pela população,
chama-se serviço público de rádio e de televisão.
Sem pressões de
audiências, sem pressões económicas, sem accionistas que querem apenas ver o seu
investimento lucrar.
Mas se fecharem um
ou mais dos canais de rádio e de televisão, se privatizarem os restantes ao
sabor de teimosias políticas e pseudo imposições orçamentais, a preço da chuva,
os dominós continuarão a serem virados, tal como os copos, porque quem estiver
sentado à mesa saberá que ver a RTP será o mesmo que ver qualquer outro canal.
By me
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