Leio, na versão
on-line de um jornal diário, que algumas bancadas parlamentares portuguesas se
pronunciaram e se preocupam por os jogos de futebol da primeira liga não serem
transmitidos pelas televisões em sinal aberto. Entre outros, foi invocado o
argumento de, ao não fazer uma proposta, a RTP não estar a cumprir o serviço
público.
Comecemos por
esclarecer uma coisa: o futebol da primeira liga não é um desporto! É um
espectáculo! E um negócio! Se dúvidas houvessem, bastaria olhar os números das
transferências de jogadores – muitos milhões – para perceber que o que está em
causa é dinheiro, não actividade física, não desporto. E se isso não
esclarecesse tudo, vejam-se também as polémicas que acontecem fora dos jogos
mas ligadas aos clubes: sempre em torno de dinheiro e da transparência, ou não,
dos actos de gestão económica dos clubes.
Ora sendo um
negócio, há quem venda e quem compre. Quem vende são os promotores do
espectáculo, quem compra são os diversos intermediários até que chegue ao
último consumidor: o público. Vende-se a publicidade que lhes está associada
(estranho como este negócio é patrocinado por bebidas alcoólicas), vende-se
tudo quanto é objectos ligados aos clubes e ao fanatismo por eles (até cuecas
infantis com cores e logótipos clubisticos se vendem), vendem-se jornais
diários ditos desportivos que ocupam quase metade do seu espaço com este
negócio, vendem-se as apostas mútuas (totobola), vendem-se os direitos
televisivos. E este negócio é, talvez, o que envolve mais dinheiro, logo a
seguir aos dos jogadores.
Ora sendo certo
que o país está em crise, crise esta que afecta o negócio da publicidade (base
da actividade televisiva privada), crise essa que leva a enormes cortes na
televisão pública (investimento, salários, canais, …), como se espera que haja
dinheiro a rodos para pagar um negócio que é cada vez mais caro?
Defendem os nossos
políticos que em Portugal vigora um sistema de economia de mercado. Acontece
que neste negócio o que vigora é um monopólio, já que todos os direitos de
transmissão foram comprados por uma única entidade (privada) que agora os vende
às estações televisivas. Um único intermediário entre todos os clubes e todas
as estações. Entidade esta que, suspeito, se está a ver em problemas ao ter
comprado um produto que agora não consegue vender ao preço que quer.
Por outro lado, é
engraçado que os partidos políticos venham a terreiro manifestar-se pela não
transmissão de jogos de futebol. Não os vejo a manifestar-se pela ausência de
transmissões de ópera, bailado, teatro… Não os vejo a queixarem-se de não haver
nas televisões incentivos à leitura, à frequência de museus. As actividades
culturais não fazem partes das agendas políticas quando se fala em televisão.
Talvez porque não mexem com tantos milhões. Talvez porque não fazem parte do
“circo”.
E citando a
Wikipédia (que vale o que vale):
“Panem et circenses [ludos] é
a forma acusativa da expressão latina panis et
circenses [ludi], que significa
"pão e jogos circenses", mais popularmente citada
como pão e circo. Esta foi uma política criada pelos antigos romanos,
que previa o provimento de comida e diversão ao povo, com o objectivo de
diminuir a insatisfação popular contra os governantes.
Espectáculos
sangrentos, como os combates entre gladiadores, eram promovidos nos
estádios para divertir a população; nesses estádios, pão era distribuído
gratuitamente.
O custo desta
política foi enorme, causando elevação de impostos e sufocando a economia do
Império.”
Efectivamente, já
não havendo pão e retirando o circo, corre-se o risco de uma sublevação
nacional e de o sistema político abanar nos seus alicerces. Quiçá cair. A
última coisa que as bancadas parlamentares desejam, p’la certa.
By me
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