Tenho para mim que
os fotógrafos só registam o fora do normal.
O bonito, o feio,
o insólito, o incomum, a situação única. Diria mesmo que quando se fotografa
algo de tão banal como, por exemplo, o quotidiano lavar de loiça, fazem-no
porque de algum modo esse lavar de loiça é especial: pela loiça em causa, pela
pessoa que o faz, pela refeição que sujou essa loiça, pelo lugar onde essa
loiça foi usada… alguma coisa de especial aconteceu para que esse banalíssimo
lavar de loiça merecesse uma fotografia.
Assim hoje,
domingo, depois de um cafezinho bem tardio, decidi dar uma pequenina volta higiénica
pelas imediações de onde moro. Nenhuma intenção especial que não uma voltinha
higiénica e deixar que os olhos vagueassem pelo circundante em busca de algo de
incomum que merecesse o registo. Que a minha câmara de bolso jaz jus ao seu
nome e está sempre comigo.
Suponho que o
problema fosse exclusivamente meu! Neste passeio dominical, ainda que curto,
nada de incomum vi. Talvez que o não tão grande número de lugares vagos para
estacionar quanto o que se esperaria dado ser Domingo e Agosto. Talvez que a
menor quantidade de lixo fora dos contentores que o habitual. Talvez que o
haver crianças pequenas a brincar na rua, coisa não habitual aqui por estes
lados, fora do parques infantis. Talvez que ainda haver bandeiras nacionais em exibição,
restos de um nacionalismo absurdo e sinónimo de desleixo na decoração exterior
das casas. Talvez que o ter encontrado dois automóveis de matricula francesa,
indicadores de ser Agosto e mês de férias p’la Europa fora. Talvez que, e para
além do latido de um canito e as risadas da criançada, nenhum outro ruído se
ouvisse. Talvez que pouca roupa pendura nas janelas. Talvez o já haver folhas
de árvore secas e queimadas.
Mas o certo é que
não dei por nada de invulgar ou merecedor de uma fotografia. Talvez que a minha
mente tenha decidido que é Domingo e Agosto e tenha decidido gozar umas horas
de férias, deixando-me incapaz de constatar o que de menos comum acontece em
redor.
Restou-me, quase à
porta de casa e no regresso, este sapato. Que nem ele sequer é incomum para
mim, que parece que tenho “faro” para os que estão por aí abandonados.
E, para que se não
dissesse que este pequeno passeio, física e intelectualmente higiénico, não foi
profícuo, fiz o registo. Que, mesmo ele, nada tem de especial, que justifique
um registo, que chame a atenção de um fotógrafo.
By me
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