Faço o pedido. Vem
a bebida. Chegam as entradas. Trazem o prato principal. Mas… Faltam os
talheres.
Olhando para um
lado e o outro, em busca de uma solução em auto-suficiência, acabo por recorrer
a um expediente. Arriscado e de consequências não muito previsíveis.
Jogando a mão ao
cinto, saco do canivete suíço. Com um gesto rápido de hábito antigo e um clic
mais que conhecido, abro-o e empunho-o.
Obedecendo como
que a uma batuta de aço, as conversas em redor baixam de tom ou silenciam-se,
alternando com exclamações abafadas de espanto. Algumas cadeiras arrastam-se no
chão.
Primeiro com o
olhar, depois com um gesto da mão esquerda, livre, chamo a atenção de um dos
empregados, que se aproxima hesitante. Em tom baixo, adequado à privacidade da
situação, digo-lhe:
“Posso usar a
minha própria ferramenta, mas creio que seria bem mais fácil se me arranjasse
um garfo e uma faca.”
Endireitou-se de
imediato, as faces recuperaram a cor e, acto contínuo, dirigiu-se a uma gaveta,
num armário ali perto. A uma distância respeitosa, dois empregados e uma
empregada observavam o que se passava. Ela com um discreto sorriso nos lábios,
que já me conhecia.
Depois de uma
curta viagem por outras gavetas e por uma mesa já pronta, o rapaz que me
atendia regressou com os talheres em causa, entregando-mos com um pedido de
desculpas titubeado.
Ao recebe-los,
fechei o canivete com o seu ruído característico e ouviu-se, em jeito de
surround, um coro de alivio e o retomar das conversas e barulhos de baixela.
E o resto do
jantar decorreu com normalidade, com as pseudo prata-da-casa.
Não acredito que,
naquela casa de pronto-a-comer, se tornem a esquecer de ter as mesas prontas.
Não vá dar-se o
caso de eu passar por lá de novo!
Nem me esqueço do
sorriso divertidíssimo da empregada que, aquando da minha saída, me piscou o
olho, cúmplice.
By me
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