Quando, hoje escrevi sobre os porquê de se fazerem
fotografias, esqueci-me de um aspecto, tão ou mais importante que todos os
demais por junto: o vício.
Como qualquer outra coisa na vida que se faça amiúde, a dado
passo passamos a fazê-la sem que disso os apercebamos. Excepto quando o não
fazemos e sentimos que algo nos falta. Entramos, nessa altura, num estado de
carência, como se de droga se tratasse.
A partir de certa altura, o fazer fotografia torna-se parte
integrante da vida, como pele ou ar e fazê-lo é tão natural como usá-los. Mas é
também nessa altura que não o fazer é como ter comichão e não coçar ou querer
respirar de boca e nariz fechados.
Digo isto com o saber da experiência feita, mas também com o
conhecimento de saber que outros sentem e agem como eu.
A dado passo na vida, fazer um registo de imagem, por mais
absurdo que possa ser, é como um corrimão a que nos apoiamos quando estamos em
desequilíbrio: vital.
Como que a consubstanciar esta teoria, recordo um velho fotógrafo
de imprensa, que conheci no jardim da Estrela. Passeava ele quase todos os dias
o seu cão, sempre com uma velha Nikon F, a 50mm e um párasol metálico
pendurados no ombro. Ombro esse cuja posição francamente subida bem denunciava
o quanto estava habituado a usar aquilo ali pendurado.
Pois este velho fotógrafo, com quem conversei umas duas ou
três vezes apenas, já não conseguiria fotografar grande coisa, que bem lhe vi
os sintomas da doença de Parkinson. Mas não creio que alguma vez lhe passasse
pela cabeça sequer o vir para a rua sem a sua velha companheira. Mais fiel que
o canito, p’la certa.
Ser fotógrafo, ou fazer da fotografia a base da existência, é
isto.
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