sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Porquê 2




Quando, hoje escrevi sobre os porquê de se fazerem fotografias, esqueci-me de um aspecto, tão ou mais importante que todos os demais por junto: o vício.
Como qualquer outra coisa na vida que se faça amiúde, a dado passo passamos a fazê-la sem que disso os apercebamos. Excepto quando o não fazemos e sentimos que algo nos falta. Entramos, nessa altura, num estado de carência, como se de droga se tratasse.
A partir de certa altura, o fazer fotografia torna-se parte integrante da vida, como pele ou ar e fazê-lo é tão natural como usá-los. Mas é também nessa altura que não o fazer é como ter comichão e não coçar ou querer respirar de boca e nariz fechados.
Digo isto com o saber da experiência feita, mas também com o conhecimento de saber que outros sentem e agem como eu.
A dado passo na vida, fazer um registo de imagem, por mais absurdo que possa ser, é como um corrimão a que nos apoiamos quando estamos em desequilíbrio: vital.
Como que a consubstanciar esta teoria, recordo um velho fotógrafo de imprensa, que conheci no jardim da Estrela. Passeava ele quase todos os dias o seu cão, sempre com uma velha Nikon F, a 50mm e um párasol metálico pendurados no ombro. Ombro esse cuja posição francamente subida bem denunciava o quanto estava habituado a usar aquilo ali pendurado.
Pois este velho fotógrafo, com quem conversei umas duas ou três vezes apenas, já não conseguiria fotografar grande coisa, que bem lhe vi os sintomas da doença de Parkinson. Mas não creio que alguma vez lhe passasse pela cabeça sequer o vir para a rua sem a sua velha companheira. Mais fiel que o canito, p’la certa.
Ser fotógrafo, ou fazer da fotografia a base da existência, é isto.


By me

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