Naquela esplanada,
que conheço há já nem sei quantos anos, quem ali trabalha estava
particularmente bem dispostos e folgazão. O patrão, ao telefone, fazia de conta
que se queixava nem sei de quê e a empregada lançou-lhe um “Não se chore que se
desidrata e a água está cara!”
Aproveitando a
embalagem, e sendo que já havia lançado uma ou duas das minhas larachas,
perguntei-lhe: “E conhece o poema Lágrima de Preta?”
Não vinha nada a
propósito, mas saiu-me.
“Não”,
respondeu-me. “Sabe, a minha professora de português passava o tempo a falar de
coisas estranhas, da sua gata e sei lá mais o quê. Só nos safamos porque ela
dizia para estudarmos isto ou aquilo e os testes dela eram exigentes. Veja lá
que até nos levava ao teatro para ouvirmos os textos que tínhamos que estudar!
Não prestava para nada!”
Aplaudi
mentalmente aquela professora menos ortodoxa mas aplicada e achei que a podia
ajudar, ainda que aquela mocinha já não estivesse no seu nono ano.
Rapando do meu telemóvel,
procurei na net o poema e mostrei-lho.
“Que lindo!!!!!”
ouvi-lhe no final, vendo os seus olhos brilhar.
Rematei a conversa
com o nome do autor – Gedeão – e a sugestão que o procurasse no youtube, que
estão por lá algumas versões realmente bonitas de ouvir.
Afastei-me com os
olhos dela, mais que fotografados, registados na minha mente.
Por vezes, basta
uma folhinha e um raiozinho de luz para fazer o dia terminar em beleza. E um
poema, já agora.
By me
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