segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Fim de tarde




Naquela esplanada, que conheço há já nem sei quantos anos, quem ali trabalha estava particularmente bem dispostos e folgazão. O patrão, ao telefone, fazia de conta que se queixava nem sei de quê e a empregada lançou-lhe um “Não se chore que se desidrata e a água está cara!”
Aproveitando a embalagem, e sendo que já havia lançado uma ou duas das minhas larachas, perguntei-lhe: “E conhece o poema Lágrima de Preta?”
Não vinha nada a propósito, mas saiu-me.
“Não”, respondeu-me. “Sabe, a minha professora de português passava o tempo a falar de coisas estranhas, da sua gata e sei lá mais o quê. Só nos safamos porque ela dizia para estudarmos isto ou aquilo e os testes dela eram exigentes. Veja lá que até nos levava ao teatro para ouvirmos os textos que tínhamos que estudar! Não prestava para nada!”
Aplaudi mentalmente aquela professora menos ortodoxa mas aplicada e achei que a podia ajudar, ainda que aquela mocinha já não estivesse no seu nono ano.
Rapando do meu telemóvel, procurei na net o poema e mostrei-lho.
“Que lindo!!!!!” ouvi-lhe no final, vendo os seus olhos brilhar.
Rematei a conversa com o nome do autor – Gedeão – e a sugestão que o procurasse no youtube, que estão por lá algumas versões realmente bonitas de ouvir.
Afastei-me com os olhos dela, mais que fotografados, registados na minha mente.

Por vezes, basta uma folhinha e um raiozinho de luz para fazer o dia terminar em beleza. E um poema, já agora.


By me

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