Esta é uma
fotografia sem interesse.
Enfim, será uma
fotografia sem grande interesse, que algum terá, ou eu não a teria feito.
Numa primeira
abordagem, simples e sem pretensões, poder-se-á dizer que e trata de um tecto.
A perspectiva é de baixo para cima e o que lá vemos, entre outras coisas, é que
há lâmpadas. E não sendo normal haver lâmpadas que não no tecto (ainda que
existam excepções) deduzimos ser o tecto.
Também podemos
deduzir que é de dia. As ditas lâmpadas estão apagadas e, naquilo que podemos
ver pelas janelas – porque aqui há janelas - é que lá fora há mais luz que cá
dentro. É assim seguro – ou quase – afirmar que é de dia.
Para quem esteja
habituado a estas coisas de andar sem ser de carro nos subúrbios, talvez possa
identificar onde se está. Efectivamente, estamos no interior de uma carruagem
de comboio. Uma boa pista para tal dedução será o banco em primeiro plano –
ainda que dele só vejamos o seu extremo superior – e aquilo que os conhecedores
identificam como sendo a parte superior das portas automáticas. Aquele verde plástico
e aquele mapa não engana quem os usa diariamente.
Pelos bancos,
porta e janela sabemos que é um comboio. Mas também podemos saber que o é se
atentarmos nas fendas longitudinais no tecto, mesmo ao lado das lâmpadas: as saídas
do ar condicionado. Suponho que terá sido uma qualquer piada subliminar, o
fazer estas saídas longitudinais, a todo o comprimento da carruagem, e
paralelas: uma discreta mas concreta alusão ao que acontece por baixo da
carruagem e onde ela assenta. Que os carris são paralelos (ou querem-se sempre paralelos
para evitar acidentes) e é neles que assentam e giram as rodas.
Aliás, e a este
respeito, sempre me fez confusão uma questão que se prende com ferrovia e física:
Uma carruagem tem oito rodas. Supostamente, as rodas são tangenciais aos
carris, o que significa que tocam neles apenas num ponto (ou num segmento de
recta, se considerarmos em três dimensões). Que, se não fossem tangentes mas secantes,
não rolariam. Significa isto que oito pequenos segmentos de recta, muito
pequenos mesmo, suportam todas aquelas toneladas de uma carruagem, acrescido do
peso da carga, humana ou não. Espero que os engenheiros tenham feito bem as
contas, que me parece pouco suporte para tanto peso.
Mas, e voltando à
fotografia que tem pouca importância, também podemos deduzir que se trata de
uma hora de pouco movimento. Vê-se apenas, e de relance, uma cabeça. O banco
fronteiro à câmara está vazio, impossível de acontecer num comboio suburbano em
hora de ponta.
Quem conhecer bem
o que acontece nos comboios suburbanos, poderá acrescentar que a fotografia foi
feita numa estação. Aquilo que se vislumbra pela janela não está tremido, ainda
que muito perto, o que assegura que a composição está parada. E isso acontece
numa estação.
Temos assim que
uma fotografia sem importância nenhuma nos mostra o interior de um comboio
suburbano, numa hora morta do dia e parado numa estação.
Será que esta
fotografia pertence a uma ignota categoria fotográfica, chamada de “train
photography”? Tal como há a “street photography”, a “product photography”, a “cityscape
photography” e a landscape photography”. Não pertence à “nigth photography”
porque é de dia, nem pertence à “sports photography” porque não vemos nenhum
atleta. Tal como não é uma “portrait photography” (onde está o retratado?) nem é
“macro photography” ou “fashion photography”.
Caramba! Esta é
uma fotografia sem interesse nenhum que, para ter algum interesse tive que a escolher
e sobre ela perorar um bom bocado. Sem classificações em língua lusa ou outra.
Quanto ao resto, a
que grupo pertence ela? Apenas ao grupo das fotografias sem interesse que eu
faço.
By me
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