Este episódio já
não é novo.
Passou-se a meio
de um mês, a meio de uma semana, a meio de uma tarde.
Entrei naquele
supermercado para comprar dois ou três artigos. Tão pequeno era o negócio, em
preço e volume, que nem cesto ou carrinho de compras levei. Fiquei com eles na
mão.
Para o pagamento,
dirigi-me às caixas. Das muitas dezenas que por lá existem, apenas uma meia
dúzia estava aberta, de tão pequeno era o movimento. E, mesmo assim, dei com
uma sem clientes, a que me dirigi.
Ao colocar os
artigos no tapete rolante, a menina que ali estava regressou dos pensamentos
profundos que estava a ter, sobre a sua conta bancária, o orgasmo da véspera ou
fosse lá o que fosse.
Olhando primeiro
para os artigos a pagar e depois para mim e para as minhas barbas, declarou-me
com voz peremptória:
“Esta caixa é
reservada a grávidas!”
Atónito, olhei
para ela e, em seguida, para trás e acima. De facto, lá estava a placa com os
símbolos de uma cadeira de rodas e de uma mulher grávida. E com os dizeres de
“Caixa prioritária”.
Na minha
interpretação, aquilo significava que, surgindo alguém naquelas condições, os
demais clientes deveriam ceder o lugar. E não que ali apenas se atendessem
deficientes ou grávidas.
Puxando o colete
para trás e empinando para a frente o meu já de si proeminente ventre,
limitei-me a perguntar:
“E como acha que
eu estou?”
A dar fé naquilo
que li na sua expressão, na minha camisa tinham surgido dois buracos ao nível
do umbigo, dos quais se expandiam dois braços, em cujas extremidades duas mãos
lhe faziam carícias nas mais que vermelhas faces.
Não emitiu um som
que fosse. Registou os produtos em causa, aceitou o meu dinheiro e entregou-me
o troco, recuperando entretanto a cores habituais.
Presumo que,
passado todo este tempo, ela já tenha tido uma barriga maior que a minha, que a
tenha perdido e que possua um bebé ou criança feliz e saudável.
E que tenha
aprendido a diferença entre “caixa reservada” e “caixa prioritária”.
Mas, e
principalmente, que tenha encontrado outros como eu que não dependem de placas
ou cartazes para ceder o lugar a quem dele necessita.
By me
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