A primeira parte
desta história aconteceu ainda este telemóvel era um sonho num futuro próximo.
Num restaurante
onde entrei para jantar com um casal amigo, tinha eu que fazer um telefonema.
Depois de feito o
pedido, perguntei se teriam telefone público, indicaram-mo e fui.
No entanto, senti
na sala, que estava razoavelmente vazia, uma espécie de silêncio estranho, como
se algo de errado tivesse acontecido.
No regresso, já
mais tranquilo, fui olhando em redor. Em cima de cada mesa, mesmo ao lado dos
talheres, exibiam-se telefones celulares, bem maiores que este, mas que eram a última
coqueluche do momento. E fui olhado de lado, como que perguntando que espécie
de pelintra seria eu que não possuía também uma daquelas engenhocas.
A segunda parte
deste desta história passou-se num momento em que este aparelho de comunicação
já pertencia à arqueologia dos telemóveis.
Desafiei um colega
para jantar durante o horário de trabalho. O costume, quando o trabalho de
ambos o permite.
Partilhámos a
sala, a mesa, por mero acaso a comida que escolhemos o mesmo prato. Mas ficámos
por aí no que toca a partilhas.
Que, durante todo
o bendito jantar esteve ele muito entretido à conversa não sei com quem, mas várias
pessoas, usando o Messenger que o seu smartphone permite usar. Termos estado os
dois ali ou um naquela sala e o outro nos antípodas teria sido rigorosamente o
mesmo.
Não fiz nenhum
comentário. Não adiantaria. Acabando eu de jantar, levantei-me e fui à minha
vida, sem mais explicações. Mas certo é que, da próxima vez em haja
oportunidade de partilharmos uma refeição, pedir-lhe-ei que deixe o aparelho na
sua sala. Ou que jante com o aparelho que eu irei a outro lado.
A terceira parte
desta história é intemporal, que começou bem antes de haver aparelhos portáteis
de comunicações e terminará comigo.
Em minha casa a
refeição é sacrossanta. Durante ela o televisor está desligado e os telefones não
se atendem. Em havendo necessidade, atrasar-se-á a refeição para que se assista
a algo importante. E se o telefone – qualquer um – tocar, que deixem recado,
que é para isso que serve o atendedor de chamadas incorporado.
A refeição é uma
partilha, de comida, de ideias, de presenças. Interromper ou subverter essa
partilha é pecado. Que em minha casa se não comete, esteja quem estiver
presente.
By me
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