domingo, 19 de agosto de 2012

Pecados




A primeira parte desta história aconteceu ainda este telemóvel era um sonho num futuro próximo.
Num restaurante onde entrei para jantar com um casal amigo, tinha eu que fazer um telefonema.
Depois de feito o pedido, perguntei se teriam telefone público, indicaram-mo e fui.
No entanto, senti na sala, que estava razoavelmente vazia, uma espécie de silêncio estranho, como se algo de errado tivesse acontecido.
No regresso, já mais tranquilo, fui olhando em redor. Em cima de cada mesa, mesmo ao lado dos talheres, exibiam-se telefones celulares, bem maiores que este, mas que eram a última coqueluche do momento. E fui olhado de lado, como que perguntando que espécie de pelintra seria eu que não possuía também uma daquelas engenhocas.

A segunda parte deste desta história passou-se num momento em que este aparelho de comunicação já pertencia à arqueologia dos telemóveis.
Desafiei um colega para jantar durante o horário de trabalho. O costume, quando o trabalho de ambos o permite.
Partilhámos a sala, a mesa, por mero acaso a comida que escolhemos o mesmo prato. Mas ficámos por aí no que toca a partilhas.
Que, durante todo o bendito jantar esteve ele muito entretido à conversa não sei com quem, mas várias pessoas, usando o Messenger que o seu smartphone permite usar. Termos estado os dois ali ou um naquela sala e o outro nos antípodas teria sido rigorosamente o mesmo.
Não fiz nenhum comentário. Não adiantaria. Acabando eu de jantar, levantei-me e fui à minha vida, sem mais explicações. Mas certo é que, da próxima vez em haja oportunidade de partilharmos uma refeição, pedir-lhe-ei que deixe o aparelho na sua sala. Ou que jante com o aparelho que eu irei a outro lado.

A terceira parte desta história é intemporal, que começou bem antes de haver aparelhos portáteis de comunicações e terminará comigo.
Em minha casa a refeição é sacrossanta. Durante ela o televisor está desligado e os telefones não se atendem. Em havendo necessidade, atrasar-se-á a refeição para que se assista a algo importante. E se o telefone – qualquer um – tocar, que deixem recado, que é para isso que serve o atendedor de chamadas incorporado.
A refeição é uma partilha, de comida, de ideias, de presenças. Interromper ou subverter essa partilha é pecado. Que em minha casa se não comete, esteja quem estiver presente.


By me

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