Há uns anos tive
uma situação complicada. Pediram-me que integrasse, como formador, uma série de
cursos de audiovisuais. Destinavam-se a adultos, em full-time e eram
hiper-compactos: dois meses.
A coisa até que
nem seria má se o tempo destinado à operação de câmara fosse esse: oito
semanas, cinco dias por semana, seis horas por dia (240 horas). Mas assim não
era. O tempo disponível para com eles trabalhar era de 15 horas, cinco manhãs
consecutivas. Quase coisa nenhuma.
Ainda argumentei
que esse tempo era muito escasso para que do curso saíssem formandos a saber
algo que se visse, que para além da teoria haveria que haver prática e que esta
é consumidora de tempo, que os conceitos estéticos e comunicativos têm que ser
apreendidos e não engolidos e que, no mínimo dos mínimos, as sessões deveriam
ser em dias alternados para que os saberes fossem “digeridos”.
Não tive sorte
nenhuma, que quem tinha encomendado os cursos e quem os estava a dirigir assim o
queriam e assim teriam que ser.
Sendo que soube
destes detalhes demasiadamente em cima do seu inicio para me poder eximir a tal
tarefa, acedi a fazer o meu melhor no primeiro, que não teriam tempo de me
substituir, mas que para os seguintes que encontrassem quem o fizesse, porque
eu mesmo não o era capaz em consciência.
E tratei de
reduzir conteúdos e objectivos ao tempo disponível, distribui como pude tudo
isso ao longo das quinze horas, avaliações incluídas, e vi-me na contingência
de ter que impor um ritmo de trabalho intelectual muito intenso – demasiado –
aos formandos.
No final acabei
por provar a mim mesmo que aos organizadores dos cursos não lhes interessava,
que tinha razão. O mergulho intensivo numa catadupa de conceitos novos, alguns
tão abstractos e discutíveis como comunicação e estética, implica TEMPO! Não
apenas tempos para falar, demonstrar, experimentar, analisar mas, e
principalmente, para aprender. Ou, se preferirem, para serem entendidos e
interiorizados.
É que a
credibilidade do formador e a sua eventual competência não são suficientes na
tarefa a dois de aprender. O conhecimento tem que ser digerido, assimilado. E
não é objectivo da aprendizagem, nesta como em todas as áreas, que o formando
papagueie o que ouviu dizer ou leu. Tem que SABER. E isto leva tempo.
É um tempo que
varia de pessoa para pessoa, em que o momento do “Já sei!” pode acontecer na
sessão, na pausa para o café ou numa volta da cama. Tem que ser digerido!
O saber não se
coaduna com o fast-food contemporâneo, com o consumismo descartável, não é um
programa que se instale no sistema operativo, disponível depois ao toque de um
rato.
As modernas
técnicas de apoio pedagógico com equipamentos sofisticados, acesso à web,
textos condensados a partir de resumos e esquemas coloridos e apelativos apenas
tornam o conhecimento mais acessível. Não o tornam garantido!
E no trinómio [
Tempo de aprendizagem – Variedade de conteúdos – Profundidade dos temas ],
reduzir o primeiro implica forçosamente a redução dos restantes dois. O cérebro
ainda não é programável para aprender em alta velocidade.
A menos que alguém
me diga que estou errado e me explique como se faz.
By me
Sem comentários:
Enviar um comentário