Tendo dito esta
blasfémia (tal como afirmo que fotogenia não existe), passo a explicar:
Na antiguidade
procurava-se encontrar na matemática explicação para o que rodeava o Homem, o
universo. Algumas das regras e fórmulas que usamos no quotidiano ou na ciência
mais complexa foram criadas ou derivam das que surgiram então.
Nesta busca da
perfeição e do divino nos números surgiu, entre outros, o conceito do “Número
de ouro”, valor constante que se encontra em inúmeras manifestações da
natureza, desde a relação entre o comprimento e a largura de folhas de plantas
à espiral do caracol, passando pela relação entre a altura do ser humano e a
distância do umbigo aos pés.
Constatado isto,
transpuseram-no para a representação: pintura, escultura, arquitectura. E
afirmaram que esta era a fórmula do “Belo”, imutável e indiscutível como
qualquer fórmula matemática.
As gerações de
criadores e artistas que se lhes seguiram, ou porque não encontraram forma de
refutar a matemática ou porque se basearam no classicismo, mantiveram esta
afirmação como um dogma, repetindo a sua utilização nas suas obras.
E ao longo dos
três últimos milénios, milhares de gerações foram sendo “educadas”
esteticamente para aceitar esta como a forma pura de representação: nas escolas
normais, nas escolas de arte, na arquitectura, na religião, na comunicação em
geral, esta proporção foi sendo aplicada até para além do limite.
No entanto, como
qualquer outro factor cultural, o gosto do ser humano depende daquilo que
aprende e a que está habituado. Tal como a harmonia das cores ou a harmonia da
música. Se viajarmos até à Índia, o luto assume a cor branca, uma ofensa à
nossa sensibilidade ocidental.
Tenho para mim que
a estética não é limitada a números (se bem que eles possam ajudar a normalizar
os conceitos).
A estética depende
das sensações de agrado e desagrado. E estas dependem do estado de espírito e
das vivências de quem gosta ou desgosta.
Se a estética,
aplicada seja a que forma de expressão ou comunicação, dependesse em exclusivo
de fórmulas matemáticas, não apenas se teriam já esgotado todas as combinações
sublimes de criação plástica, musical, poética, como os publicitários estariam
desempregados.
Entendo que a
estética, tanto no acto de criação como no do seu desfrute, dependem daquele
“pequenino” factor que diferencia o Homem de uma máquina. O seu nome? Tantos
quantas as culturas, crenças, história, tecnologias e modas. Há quem lhe chame
“alma”!
Quanto à utilização
do número de ouro (Φ=½(1+√5)≈1.618033989 ), este serve, sem sombra de dúvida,
para a comunicação de massas, para que a mensagem emitida por um caia nas boas
graças dos demais.
Eu, que trabalho
todos os dias com a estética da comunicação de massas pela imagem, vejo-me
demasiadas vezes no dilema de escolher entre aquilo que me agrada e aquilo que
sei que agrada ao comum dos mortais: o público. Sou forçado a gerir o espaço e
os seus elementos dentro dele de acordo com a “regra de ouro” ou, simplificada,
a “regra dos terços”. Mas já perdi a conta das vezes em que, olhando para o meu
trabalho que a respeita, não gosto. E se a corrijo para como eu gosto, sou
olhado de lado por colegas e superiores.
Não! Comigo, e sei
que com muitos outros, as regras e as formulas matemáticas aplicadas à
comunicação e expressão pessoal não funcionam.
Talvez por ter
sido mau aluno em matemática.
By me
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