sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Ser professor




Tenho para mim que ser professor é bem mais que um ofício ou profissão. Ou talvez ser professor seja uma profissão, mas no sentido de ser uma “profissão de fé”.

Sendo que o objectivo do professor é que o aluno saiba, a função daquele não é ensinar mas antes ajudar a aprender. Usando das técnicas e mecanismos de que disponha ou saiba, deve colocar o conhecimento à disposição de quem aprende por forma a que tal suceda. E sendo que não há duas pessoas iguais, não existem dois alunos iguais, cada um com as suas capacidades, facilidades e dificuldades.
Deverá assim o professor adaptar a cada aluno o seu trabalho, usando para tal o tempo que for necessário à obtenção do seu objectivo. E os métodos, os discursos, os exemplos, os auxiliares pedagógicos…
Mas há uma ferramenta indispensável ao trabalho do professor. Não se compra nas lojas, não se aprende nas faculdades e a sua utilização só muito superficialmente está descrita nos manuais: confiança!

A relação professor/aluno tem que assentar na confiança recíproca! Permanentemente. Mesmo a contestação. Se o discípulo contesta o mestre deverá ser por porque nele confia e a isso é levado. Porque questionar o que se ouve ou aprende é uma forma de pensar, de aprender, de se querer ir mais longe no conhecimento. E isso faz parte dos objectivos do professor.
Quando não há questões, dúvidas ou perguntas sobre o que se viu ou ouviu, quando o professor não é posto em causa no conhecimento a que conduz o aluno, este não está a aprender! Está a papaguear o que ouve, está a repetir mecanicamente o que viu, está a tentar obter a classificação almejada e não o conhecimento. Mas também está a demonstrar falta de confiança no professor. Está a aceitar como implícito e não como válido o que lhe é transmitido!
Claro que esta confiança professor/aluno é algo que vai variando com a idade deste, com a experiência de vida e a quantidade de hipocrisia e de formalismo que o aluno, mais jovem ou não tanto, vai encontrando. É, assim, vital que o professor – que o seja realmente – se esforce por conquistar e merecer essa confiança, trabalho tanto mais difícil e exigente quanto maior a idade dos seus alunos ou discípulos.
Este conceito, tenho que seja válido para o ensino regular (do pré-primário ao universitário), para o especial, para o profissional ou para o “learning on the Job”.

E tenho para mim também que será uma das faltas mais graves que um professor poderá cometer, o quebrar dessa confiança.
Se não a conseguiu por inabilidade ou falta de estofo moral para tal, não se poderá estragar ou quebrar aquilo que não se possui.
Mas se a conseguiu, se trabalhou para ela e a obteve, então quebra-la é bem mais que um delito, é um crime. Não apenas destruiu uma dádiva como impediu que o aluno possa aprender em pleno. Mas, tão ou mais grave que isso, é um incentivo na criança, jovem ou não tanto, ao cinismo, à hipocrisia, à mentira, ao não confiar no género humano.
E, se bem que faça parte da aprendizagem, da passagem de juvenil a adulto, o conhecimento dos lados menos bons do ser humano, o professor, nesta questão de confiança, deve ser sacro-santo e impoluto.
Quando tal não sucede, quando a confiança do aluno no professor (enquanto sabedor e enquanto pessoa íntegra) se perde ou é desbaratada, estou em crer que o pelourinho e o açoitamento público de antigamente serão penas leves para estes crimes.

By me

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