Tenho para mim que
ser professor é bem mais que um ofício ou profissão. Ou talvez ser professor
seja uma profissão, mas no sentido de ser uma “profissão de fé”.
Sendo que o
objectivo do professor é que o aluno saiba, a função daquele não é ensinar mas
antes ajudar a aprender. Usando das técnicas e mecanismos de que disponha ou
saiba, deve colocar o conhecimento à disposição de quem aprende por forma a que
tal suceda. E sendo que não há duas pessoas iguais, não existem dois alunos
iguais, cada um com as suas capacidades, facilidades e dificuldades.
Deverá assim o
professor adaptar a cada aluno o seu trabalho, usando para tal o tempo que for
necessário à obtenção do seu objectivo. E os métodos, os discursos, os
exemplos, os auxiliares pedagógicos…
Mas há uma
ferramenta indispensável ao trabalho do professor. Não se compra nas lojas, não
se aprende nas faculdades e a sua utilização só muito superficialmente está
descrita nos manuais: confiança!
A relação
professor/aluno tem que assentar na confiança recíproca! Permanentemente. Mesmo
a contestação. Se o discípulo contesta o mestre deverá ser por porque nele
confia e a isso é levado. Porque questionar o que se ouve ou aprende é uma
forma de pensar, de aprender, de se querer ir mais longe no conhecimento. E
isso faz parte dos objectivos do professor.
Quando não há
questões, dúvidas ou perguntas sobre o que se viu ou ouviu, quando o professor
não é posto em causa no conhecimento a que conduz o aluno, este não está a
aprender! Está a papaguear o que ouve, está a repetir mecanicamente o que viu,
está a tentar obter a classificação almejada e não o conhecimento. Mas também
está a demonstrar falta de confiança no professor. Está a aceitar como
implícito e não como válido o que lhe é transmitido!
Claro que esta
confiança professor/aluno é algo que vai variando com a idade deste, com a
experiência de vida e a quantidade de hipocrisia e de formalismo que o aluno,
mais jovem ou não tanto, vai encontrando. É, assim, vital que o professor – que
o seja realmente – se esforce por conquistar e merecer essa confiança, trabalho
tanto mais difícil e exigente quanto maior a idade dos seus alunos ou
discípulos.
Este conceito,
tenho que seja válido para o ensino regular (do pré-primário ao universitário),
para o especial, para o profissional ou para o “learning on the Job”.
E tenho para mim
também que será uma das faltas mais graves que um professor poderá cometer, o
quebrar dessa confiança.
Se não a conseguiu
por inabilidade ou falta de estofo moral para tal, não se poderá estragar ou
quebrar aquilo que não se possui.
Mas se a
conseguiu, se trabalhou para ela e a obteve, então quebra-la é bem mais que um
delito, é um crime. Não apenas destruiu uma dádiva como impediu que o aluno
possa aprender em pleno. Mas, tão ou mais grave que isso, é um incentivo na
criança, jovem ou não tanto, ao cinismo, à hipocrisia, à mentira, ao não
confiar no género humano.
E, se bem que faça
parte da aprendizagem, da passagem de juvenil a adulto, o conhecimento dos
lados menos bons do ser humano, o professor, nesta questão de confiança, deve
ser sacro-santo e impoluto.
Quando tal não
sucede, quando a confiança do aluno no professor (enquanto sabedor e enquanto
pessoa íntegra) se perde ou é desbaratada, estou em crer que o pelourinho e o
açoitamento público de antigamente serão penas leves para estes crimes.
By me
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