A vida é feita de
pequenos nadas, disse o poeta. E quem sou eu para contrariar um poeta?!
Mas sendo a
fotografia parte integrante da vida, também ela é feita de pequenos nadas.
Pequenos nadas vitais, pequenos nadas que agradam e pequenos nada que
desagradam.
Um dos pequenos
nadas vitais uma fotografia, pelo menos para mim, é o ar. Aquela coisa que só
sentimos quando se mexe mas que quando não existe sentimos-lhe a falta.
Este ar ou espaço,
é o que é parte integrante do que fotografamos, o espaço que lhe é inerente, o
espaço ou ar de que necessita para existir. Ou movimentar-se. Ou ser usado. Ou usar.
Ou respirar.
A fotografia da
esquerda tem o ar ou espaço habitual a um fotógrafo: espaço à frente do corpo,
para onde está virado; espaço à frente da objectiva, na zona onde estará,
eventualmente, a fotografar. Eu diria que é uma fotografia equilibrada,
satisfazendo as necessidades, curiosidades e tranquilidades de quase todos os
espectadores. E fotógrafos.
Já a fotografia do
centro é o seu oposto. Não tem espaço à frente do corpo, não tem espaço à
frente da objectiva e, em contrapartida, tem muito espaço, quiçá em demasia,
atrás do corpo. De onde não se espera que venha coisa alguma mas que, assim
mostrada, nos pode indiciar que algo irá surgir, de bom ou de mal. Não é uma
imagem convencional, tranquilizadora ou que agrade à maioria. Fotógrafos ou não.
Mas pode ser intencional, para provocar incómodo ou desassossego em quem a vê.
Já a fotografia da
direita não é nem carne nem peixe. Nem o ar à frente nem o ar atrás são
suficientes para induzir ao que quer que seja. Nem o que pode surgir nem para
onde se está a apontar. Nem o “natural” nem o “indutor”. É um “pequeno nada” a
mais de um lado ou um “pequeno nada” em falta do outro.
Mas é também o
colocar o centro de interesse bem ao meio, daquela forma que fazem os atiradores
de elite ao fazer ponto de mira.
Este colocar o
centro de interesse bem ao centro da imagem quando os seus elementos pedem ar
para respirar, movimentarem-se, existirem (explícita ou implicitamente) é
daqueles pequenos nadas que me incomodam, que me fazem indagar sobre que diabo
estaria a pensar o fotógrafo que tal fez: em fotografia ou tiro ao alvo?
By me
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