A história é
velha. Velha mesmo, datando da minha adolescência.
Fora eu convidado
para jantar em casa da namorada. Pela primeira vez. Momento solene, de
apresentação aos pais, com tudo o que isso significa. Mais ainda, se pensarmos
que se passou há trinta e muitos anos.
Durante a
refeição, onde tentei recordar todas as recomendações de boa educação e de
comportamentos à mesa, puxei eu a conversa sobre a revolução e a guerra
colonial.
Entenda-se que o
pai da minha namorada tinha sido militar de alta patente e afastado do activo
após a revolução.
O silêncio e os
semblantes que vi nos restantes comensais não foram suficientemente
elucidativos no momento. Que o senhor pegou no tema, empolgou-se com ele como
era hábito – que eu desconhecia - e foi um descalabro de queixas, protestos e
ameaças. O suficiente para azedar um bom pedaço o ambiente à mesa, só aliviado
quando a mãe da minha namorada desviou a conversa, talvez que com a chegada da
sobremesa.
Mais tarde, talvez
no dia seguinte, disse-me aquela que ali me levara que aquele era tema tabu lá
em casa e que ninguém o abordava pelas razões óbvias.
O tempo passou, o
namoro acabou como tudo o resto na vida, eu e ela seguimos os nossos próprios
rumos, amigos próximos, e parte dos intervenientes nesta história já faleceram.
O que não
desapareceu foi a lição que nesse jantar e tão cedo na vida aprendi, indelével
até hoje: saber avaliar as reacções de um novo interlocutor, bem como dos
circundantes que o conheçam, e tentar evitar assuntos demasiado polémicos que,
de uma forma ou outra, possam estragar o ambiente que se quer alegre e
bem-disposto. Os indícios são, por vezes, mínimos, quase que imperceptíveis,
mas dar por eles pode tornar-se vital.
Essa prática, umas
vezes mais discreta, outras mais óbvia, tem-me evitado momentos de embaraço ou
mesmo incompatibilidades.
É que, e como
dizia a minha avozinha, “Viver não custa, custa é saber viver.”
By me
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