Acabava aqui a
carreira 21.
A bandeira, por
cima do motorista, dizia “Av. De Berlim”, mas a verdade é que terminava, ou
começava, na Av. Cidade de Luanda. Mesmo no cruzamento com a tal Av. de Berlim,
onde ficava, e fica, o cantinho mais ignoto da velha piscina dos Olivais.
Os tempos mudaram,
oh se mudaram. E se naqueles tempos só andavam na rua de noite guardas-nocturno,
padeiros, operários e meliantes, hoje as coisas são de outra forma, que os
centros comerciais fecham tarde e os demais horários são diversificados.
Assim, foi criada
algures no tempo a “rede da madrugada” que, não funcionando com a frequência
que muitos desejariam, acabam por poder levar ao seu destino muitos dos que
acabam ou começam a labuta diária quando muitos ainda nem sonham em acordar.
Nesses reajustes e
em parte do trajecto, não sei por humor se por que outra razão, a paragem a 21
passou a denominar-se 210. Suponho que quem hoje a utilize nem desconfie que
aqui mesmo, naquela chapa, em tempos não houve o zero.
Mas também
acredito que, dentro de algum tempo, a grande maioria nem se recorde mesmo que
já houve uma carreira 21. Talvez dê pelo estranho de esse número não estar a
ser usado, mas nem saberá por onde passava, de onde vinha ou onde terminava. Era
aqui.
Inicialmente vinha
do Rossio, passava ao Marquês, fazia as Avenidas Novas, atravessava Alvalade,
subia até ao Relógio, entrava nos Olivais por cima e acabava em baixo.
Não me recordo se
terá usado os velhinhos “porta atrás”, mas talvez seja falha minha. Mas por
certo que foi das primeiras, a par com o 44, a usar os de dois pisos e duas
portas, modernaços à época. Carros esses que já tinham os varões verticais
forrados de plástico e onde já não se ouvia o bater do alicate do mui odiado
cobrador.
Já não há de dois
pisos, já não há cobradores, já não há alicates e já não há carreira 21.
Não moro nos
Olivais nem em Alvalade, ainda que os cruze de quando em vez. Mas consigo
imaginar o que sentirão os que ali vivem ao ser-lhes assim retirado uma
carreira de autocarro sem que o que supostamente o substitui - o metro –
satisfaça as necessidades dos pontos intermédios.
Mas se por lá
morasse, seria certo que faria uma vigília que, se não servisse para convencer
os decisores de gabinete, serviria como velório de uma carreira. A 21.
By me
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