Disse-me uma
ocasião um médico, a propósito do meu excesso de peso, que deveria eu comprar
uma bicicleta.
Respondi-lhe que
já havia pensado nisso e que andava para pedir opiniões a colegas entusiastas
na modalidade.
“Nada disso!”
disse-me. “Uma bicicleta sem rodas. Que com rodas chove um dia, faz frio
noutro, não haveria tempo de a arrumar num outro ainda…Sem rodas e em casa não
tem desculpas.”
Acabei por nunca
comprar a bicicleta e continuo com algum peso a mais.
E é por causa
destes argumentos, bem realistas e conhecedores do bicho-homem, que o que por
cá vai ganhando cada vez mais adeptos, cedo ou tarde desaparecerá.
É certo que a
bicicleta, enquanto meio de transporte, é saudável, não polui a atmosfera, não
produz poluição sonora, não consome energia finita, é divertida, tem um menor
número proporcional de acidentados… tem um montão de argumentos a seu favor. E,
actualmente, acresce-lhe o factor “moda”.
E é vê-los e
vê-las a percorrerem a cidade, dentro ou fora das ciclovias. E a reclamarem por
mais vias dedicadas, por mais respeito por parte dos automobilistas, a
refilarem contra os peões a caminharem onde é suposto circularem bicicletas…
Mas certo é que o
Tuga é especialista na lei do funil: refila e exige mas pouco, se alguma coisa,
cumpre de livre vontade.
Assim, é banal
vê-los e vê-las em cima das rodas, com fatos desportivos e capacetes que,
algumas vezes, são mais caros que o veículo propriamente dito, a cruzarem
sinais vermelhos que lhes são dirigidos. Os e as mesmos que, se virem um
automobilista a passar um semáforo vermelho, lhes rogam umas pragas e atiram
uns termos menos simpáticos e pouco consentâneos com a pratica ciclista e
ecológica.
Quando os vejo a
obrigarem-me a encolher-me numa passagem de peões semaforizada, porque fazem
questão de passar seja qual for a cor exibida, a minha vontade é a de, à sua
passagem, simular uma tontura e queda, dando-lhes um valente encontrão. Que os
obrigue a por à prova a qualidade do capacete colorido e todo fashion.
Nunca o fiz, que
fazê-lo seria descer ao seu nível de incivilidade e ausência de respeito pelos
outros. Limito-me a ficar onde estou, não arredando pé e mostrando que o meu
volume e peso é um verdadeiro obstáculo às suas transgressões ao código da
estrada.
E reclamar o meu
legítimo direito de ali estar à espera do legítimo momento de atravessar
tranquilo e no respeito a automobilistas, peões e ciclistas. Se quiserem
espaço, que vão à volta, que façam o pino ou o cavalinho ou, melhor ainda,
esperem como todos os outros pelo verde da esperança e segurança.
By me
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