terça-feira, 3 de julho de 2012

Ser ou não ser




Algumas pessoas que conheço pessoalmente ou da net vêm usando do termo de “mestre” para se referirem a mim.
Se soubessem o quanto eu ainda tenho para aprender e o quanto eu gostaria de o poder fazer com VERDADEIROS MESTRES, nunca se atreveriam a usar do termo comigo.
Mas brincadeira é brincadeira, e eu gosto de brincar, portanto tudo bem.
Mas vou aproveitar da brincadeira e puxar dos galões que ela me atribui. Como? Falando do que é fotografia. Para mim e para esses tais MESTRES.

Fotografia é muito mais que apenas carregar no botão e fazer um registo de luz. Digital ou em película.
Fotografia é entrar em comunhão com o que é fotografado e disso retirar um pedaço. Mesmo que esse pedaço seja apenas a luz que dele se reflecte.
Esse entrar em comunhão implica, forçosamente, algum tipo de afecto para com o que é fotografado. Afecto positivo, no sentido de “gostarmos do que estamos a fotografar” ou afecto negativo, no sentido de “odiarmos o que estamos a fotografar”. Afectos.
E, para haver afecto tem que haver respeito. Não há amor sem respeito, tal como não há ódio sem respeito.
Claro que o respeito pode manifestar-se de muitas formas. O respeitar quem vem da direita, ao conduzir. O respeitar quem chegou primeiro a uma fila, o respeitar os mais velhos, o respeitar os gostos ou preferências dos outros… Respeito.
No caso da fotografia, o respeito passa por algo que a grande maioria ignora. Ou porque não o sabe ou porque lhe convém fazer de conta que não sabe: Há quem não goste de ser fotografado. Há quem não goste que a sua imagem seja divulgada aos quatro ventos ou, se preferirem, em todas as páginas da web.
Um fotógrafo, alguém que use uma câmara fotográfica, tem que ter respeito pelos outros e respeitar os desejos que eles possam ter sobre o fazer ou não fotografias e o divulgar ou não fotografias.
É patente no trabalho da grande maioria dos MESTRES da Fotografia esse respeito. Há sempre uma cumplicidade, algum tipo de afecto, entre a câmara e o fotografado. De alguma forma existe uma autorização, explícita ou implícita, para que a fotografia seja feita. E para que a fotografia seja usada.
Se aqueles que me chamam de “Mestre” prestarem atenção ao que vou fazendo, ao que de fraco vou fazendo, repararão que poucas fotografias de pessoas exibo. E se prestarem atenção à forma como vou fotografando quando estão por perto, repararão que tenho o cuidado de, seja conhecido ou desconhecido, perguntar se posso fazer e se posso usar. Isso inclui as pessoas que me tratam por “Mestre”. Que não sou!
Mas se fazem questão de usar desse nome para comigo, se, a partir desse nome, estão na intenção de comigo aprender algo mais do que vem nos livros e manuais de instruções, então aprendam isto:
Fotografar implica algum tipo de afecto. Afecto implica respeito. Logo, fotografar alguém implica respeitar as vontades de quem pode ser fotografado. Tanto em o ser como em o divulgar.
A mestria que me atribuem vem, em parte dos livros. Do ler, do pensar no que se lê, no dar crédito a quem escreve. Advém da prática e da autocrítica. Ninguém é mais crítico ao meu próprio trabalho que eu mesmo. Mas também advém do que vou fazendo, dos nossos próprios códigos de conduta, da forma como nos relacionamos com os outros, da forma como respeitamos os outros, como nos damos ao respeito e como nos respeitamos a nós próprios.  
Fotografar alguém à revelia da sua vontade e usar isso sem que o próprio saiba ou contra sua vontade é o mesmo que encontrar uma carteira na rua e ficar com ela. E não importa o que está lá dentro.
Se sou mestre (e não sou) esta é a única lição que posso passar e que gostaria que fosse aprendia até ao âmago.

By me

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