Algumas pessoas que
conheço pessoalmente ou da net vêm usando do termo de “mestre” para se
referirem a mim.
Se soubessem o
quanto eu ainda tenho para aprender e o quanto eu gostaria de o poder fazer com
VERDADEIROS MESTRES, nunca se atreveriam a usar do termo comigo.
Mas brincadeira é
brincadeira, e eu gosto de brincar, portanto tudo bem.
Mas vou aproveitar
da brincadeira e puxar dos galões que ela me atribui. Como? Falando do que é
fotografia. Para mim e para esses tais MESTRES.
Fotografia é muito
mais que apenas carregar no botão e fazer um registo de luz. Digital ou em película.
Fotografia é
entrar em comunhão com o que é fotografado e disso retirar um pedaço. Mesmo que
esse pedaço seja apenas a luz que dele se reflecte.
Esse entrar em
comunhão implica, forçosamente, algum tipo de afecto para com o que é
fotografado. Afecto positivo, no sentido de “gostarmos do que estamos a
fotografar” ou afecto negativo, no sentido de “odiarmos o que estamos a
fotografar”. Afectos.
E, para haver
afecto tem que haver respeito. Não há amor sem respeito, tal como não há ódio
sem respeito.
Claro que o
respeito pode manifestar-se de muitas formas. O respeitar quem vem da direita,
ao conduzir. O respeitar quem chegou primeiro a uma fila, o respeitar os mais
velhos, o respeitar os gostos ou preferências dos outros… Respeito.
No caso da
fotografia, o respeito passa por algo que a grande maioria ignora. Ou porque não
o sabe ou porque lhe convém fazer de conta que não sabe: Há quem não goste de
ser fotografado. Há quem não goste que a sua imagem seja divulgada aos quatro
ventos ou, se preferirem, em todas as páginas da web.
Um fotógrafo, alguém
que use uma câmara fotográfica, tem que ter respeito pelos outros e respeitar
os desejos que eles possam ter sobre o fazer ou não fotografias e o divulgar ou
não fotografias.
É patente no
trabalho da grande maioria dos MESTRES da Fotografia esse respeito. Há sempre
uma cumplicidade, algum tipo de afecto, entre a câmara e o fotografado. De alguma
forma existe uma autorização, explícita ou implícita, para que a fotografia
seja feita. E para que a fotografia seja usada.
Se aqueles que me
chamam de “Mestre” prestarem atenção ao que vou fazendo, ao que de fraco vou
fazendo, repararão que poucas fotografias de pessoas exibo. E se prestarem
atenção à forma como vou fotografando quando estão por perto, repararão que
tenho o cuidado de, seja conhecido ou desconhecido, perguntar se posso fazer e
se posso usar. Isso inclui as pessoas que me tratam por “Mestre”. Que não sou!
Mas se fazem questão
de usar desse nome para comigo, se, a partir desse nome, estão na intenção de
comigo aprender algo mais do que vem nos livros e manuais de instruções, então
aprendam isto:
Fotografar implica
algum tipo de afecto. Afecto implica respeito. Logo, fotografar alguém implica
respeitar as vontades de quem pode ser fotografado. Tanto em o ser como em o divulgar.
A mestria que me
atribuem vem, em parte dos livros. Do ler, do pensar no que se lê, no dar crédito
a quem escreve. Advém da prática e da autocrítica. Ninguém é mais crítico ao
meu próprio trabalho que eu mesmo. Mas também advém do que vou fazendo, dos
nossos próprios códigos de conduta, da forma como nos relacionamos com os
outros, da forma como respeitamos os outros, como nos damos ao respeito e como
nos respeitamos a nós próprios.
Fotografar alguém à
revelia da sua vontade e usar isso sem que o próprio saiba ou contra sua
vontade é o mesmo que encontrar uma carteira na rua e ficar com ela. E não
importa o que está lá dentro.
Se sou mestre (e não
sou) esta é a única lição que posso passar e que gostaria que fosse aprendia até
ao âmago.
By me
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