Fazer ao calhas,
por vezes, redunda em acertar bem em cheio.
Eis que abro ao
calhas um livro que tenho em cima da secretária para acabar de reler. E dou com
a transcrição que se segue. Que, de uma forma ou outra, define e justifica o
que e como tenho feito ao longo de mais de três dezenas de anos de fotografia,
vídeo e escrita.
2.1. A ligação
A função de ligação,
tal como a definiu Barthes, é uma forma de complementaridade entre a imagem e
as palavras, aquela que consiste em dizer aquilo que a imagem dificilmente pode
mostrar.
Deste modo, entre
as coisas dificilmente representáveis na imagem fixa, temos a temporalidade e a
casualidade. Com efeito, a tradição dominante de representação em perspectiva
faz prevalecer a representação do espaço em relação à representação do tempo.
Aquilo que estamos habituados a decifrar é o perto e o longe no espaço.
Admitimos a existências de ecrãs visuais (uma montanha, uma cortina) que pela
sua suposta proximidade nos escondem aquilo que se esconde por detrás deles.
Isto obriga a imagem fixa a abandonar a representação do tempo para além da
instantaneidade. Contar uma história numa única imagem é impossível, enquanto
que a imagem em sequência (fixa ou animada) encontrou os meios para construir
narrativas com as suas relações temporais e casuais. A fotonovela, as bandas
desenhadas podem contar histórias, imagem única e fixa não.
Vimos que uma das
preocupações do movimento cubista na pintura havia sido precisamente a introdução
de uma nova relação espaço-tempo no quadro, quebrando com os constrangimentos
da representação em perspectiva e a
procura dos equivalentes visuais da expressão da temporalidade. Mas a maior
parte das vezes é a língua que vai compensar esta incapacidade da imagem fixa
para exprimir as relações temporais ou casuais. As palavras vão completar a
imagem.
In: “Introdução à
análise da imagem”, by Martine Joly, Edições 70, pp 122, 123
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