quarta-feira, 25 de julho de 2012

O acaso nem sempre o é!




Fazer ao calhas, por vezes, redunda em acertar bem em cheio.
Eis que abro ao calhas um livro que tenho em cima da secretária para acabar de reler. E dou com a transcrição que se segue. Que, de uma forma ou outra, define e justifica o que e como tenho feito ao longo de mais de três dezenas de anos de fotografia, vídeo e escrita.


2.1. A ligação

A função de ligação, tal como a definiu Barthes, é uma forma de complementaridade entre a imagem e as palavras, aquela que consiste em dizer aquilo que a imagem dificilmente pode mostrar.
Deste modo, entre as coisas dificilmente representáveis na imagem fixa, temos a temporalidade e a casualidade. Com efeito, a tradição dominante de representação em perspectiva faz prevalecer a representação do espaço em relação à representação do tempo. Aquilo que estamos habituados a decifrar é o perto e o longe no espaço. Admitimos a existências de ecrãs visuais (uma montanha, uma cortina) que pela sua suposta proximidade nos escondem aquilo que se esconde por detrás deles. Isto obriga a imagem fixa a abandonar a representação do tempo para além da instantaneidade. Contar uma história numa única imagem é impossível, enquanto que a imagem em sequência (fixa ou animada) encontrou os meios para construir narrativas com as suas relações temporais e casuais. A fotonovela, as bandas desenhadas podem contar histórias, imagem única e fixa não.
Vimos que uma das preocupações do movimento cubista na pintura havia sido precisamente a introdução de uma nova relação espaço-tempo no quadro, quebrando com os constrangimentos da representação em perspectiva  e a procura dos equivalentes visuais da expressão da temporalidade. Mas a maior parte das vezes é a língua que vai compensar esta incapacidade da imagem fixa para exprimir as relações temporais ou casuais. As palavras vão completar a imagem.

In: “Introdução à análise da imagem”, by Martine Joly, Edições 70, pp 122, 123

By me

Sem comentários: