sexta-feira, 20 de julho de 2012

É fooooogo!




Embrulhámo-nos em nacionalismos!
Frementes de ardor e plenos de esperança, as cores nacionais decoraram janelas, subiram mastros, encheram almas e cobriram corpos.
Pela vitória de uma equipa de futebol. Pelo confronto de uns quantos de portugueses com outros tantos de outras nações.
Em cima do verde-relva, a bola-prateada fez bombear o sangue-vermelho dos portugueses. Até à frustração final.
Agora as cores são as mesmas mas, mas o confronto é entre nós e nós mesmos. O prateado da água não é suficiente para equilibrar o vermelho-fogo com o verde-mato.
Na batalha contra nós próprios, vamos perdendo eliminatórias sobre eliminatórias. Mas se o campeonato se repete todos os quatro anos, as árvores levam dezenas para medrar.
Vemos os soldados da paz a combater numa guerra inglória e incessante. Porque mal equipados, porque insuficientes, porque as condições são péssimas, porque mal protegidos…
São carros obsoletos, é a falta de auto-tanques, é a falta de protecção, é a falta de acessos, é a falta de vigias, é a falta de aceiros, é a falta de meios, é a falta de água…
Entretanto os soldados da guerra guerreiam nos quartéis.
Preparados para fazer jorrar o vermelho-sangue sobre verde-mato, aguardam em exercícios inofensivos e no remanso dos quartéis que sejam chamados para uma qualquer intervenção bélica.
E, enquanto não o fazem, são enviados para fora, em acções de manutenção de paz, criando créditos para o país pela nossa solidariedade internacional. Fazendo com que as nossas cores flamulem nas zonas complicadas. Do estrangeiro.
Enquanto isso, os veículos verde-pardo dos soldados da guerra ganham pó nos aquartelamentos em alternativa aos veículos vermelho-vivo dos soldados da paz que ganham pó e cinza nas serras e planícies.
Investimos em submarinos e fragatas para guerrear nas águas. Águas que nos fazem falta para fazer a paz.
Substituiremos as G3 por novas e mais modernas armas, mas as agulhetas são as mesmas.
Os Puma sairão de serviço porque novos foram encomendados, mas continuamos sem baldes nos céus.
Terminou o serviço militar obrigatório.
Agora só vai aprender a ferir e matar outro ser humano quem o quiser fazer, ainda que a contra-gosto de muitos outros. Vão-no profissionalmente, sabendo o que os espera: a vã e inglória tarefa de se treinarem nos quartéis para uma guerra tão ilusória quanto distante no espaço e no tempo.

E que tal fazer parte desse ofício o combate da paz?
Investir em treinos, conhecimentos e equipamentos para que possam também intervir nas lutas de paz.
Dentro de fronteiras.
Sem glórias nem fanfarras, sem tiros nem baionetas. Defendendo o que é nosso e dos vindouros, investindo domesticamente na existência do ser humano e de todos os outros.
Talvez assim não pensasse, ao ver um militar (praça, sargento ou oficial):
“Lá vai um que decidiu fazer do assassinato uma profissão!”
Talvez assim tivéssemos orgulho nas nossas cores, usadas em paz e pela paz.
E pudéssemos todos cantar em uníssono: “… contra os incêndios, marchar, marchar!”

Eu mesmo

Sem comentários: