E pronto!
Alguém, num
gabinete, fez exactamente isto a propósito da velhinha carreira 21 da Carris,
em Lisboa.
Ter-se-á baseado,
certamente, em estudos de tráfego, custos operacionais, quantidade de
passageiros por quilómetro percorrido, sobreposição com o novel troço do
metropolitano… e a velhinha carreira 21 parou.
Aquilo que não terá
considerado, acredito eu, são os velhinhos passageiros que a frequentavam, que
esta carreira atravessava dois bairros de população envelhecida, que a usavam
para ir às compras, para ir ao centro de saúde, para aceder ao já de si longe
metropolitano… estes passageiros velhinhos, que os bons dos motoristas
esperavam que chegassem vagarosamente às paragens, que esperavam parados nas
paragens que eles conseguissem sentar-se, que esperavam pacatamente que eles
conseguissem vencer o degrau para descer, hesitantes entre ainda se segurarem
no corrimão ou transferirem o seu equilíbrio precário para a bengala ou
canadiana, estes passageiros velhinhos que os motoristas conhecem, alguns pelo
nome, certamente que não foram contabilizados nas estatísticas ou, se o foram,
foram considerados pesos mortos ou a morrer em breve.
Esquecem-se os gestores,
bem como os autarcas que deram aprovação a este plano economicista, que estes
mesmos velhinhos, utentes da velhinha carreira 21, são aqueles que só não vão às
urnas de voto se lhes for impossível deslocarem-se, que o voto é das poucas
coisas que lhes resta para mostrarem que estão vivos.
Têm estes mesmos
velhinhos passageiros da velhinha carreira 21 magras reformas que não lhes
permitem usar de táxis. Mas o peso dos anos e a leveza das carteiras em nada os
ajuda a subir ou descer de dois ou três autocarros, no lugar de um, nem a
percorrer quinhentos ou mais metros em tempo invernoso ou estival rigoroso, só
porque uns gestores economicistas entenderam que o troço final de uma linha de
metro pode fazer desaparecer uma ou mais carreiras de autocarros. Será verdade
nesse troço novo, não onde os velhinhos hesitantes subiam a custo a velhinha
carreira 21.
Talvez que no
futuro alguém faça “stop” às mordomias dos então velhinhos gestores e autarcas,
como motorista às ordens ou crédito junto de táxis, e saibam o que custa andar
mais, subir e descer mais, viajar em carros apinhados, de pé, em que nem a
boa-vontade de um motorista lhes pode valer.
E talvez então
eles entendam o que realmente aconteceu quando fizeram “stop definitivo” à
velhinha carreira 21.
By me
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