Cruzavam-se, um
bem estático, o outro em movimento tão livre quanto o tráfego e os passageiros
permitiam: o Centro Comercial de Alvalade e a carreira 21.
De idades
aproximadas, o primeiro a sofrer bem fundo os efeitos da modernização e das
migrações dentro da urbe foi o centro comercial. Já teve cinemas (duas salas),
já teve excelentes lojas de livros, música, fotografia, bricolage…
Foi nesta última,
por exemplo, que comprei o primeiro mini-berbequim, que outro ainda se não
vendia em Portugal, e que muito uso lhe dei no miniaturismo.
Também era aqui que
existia aquilo a que chamávamos “a loja do D’Artagnan” e cujo nome advinha da
forma como o seu dono tinha a barba crescida e aparada, comércio de fotografia
onde se encontravam artigos novos e usados e de onde veio a primeira câmara
fotográfica que comprei.
A livraria aqui
existente rivalizava com as melhores da cidade na sua secção de artes, em
particular de fotografia, entre técnicos e monografias. Foi daqui que trouxe o
primeiro livro de Ansel Adams, se isto diz alguma coisa a alguém.
Mas foi também
este centro comercial a primeiro a fazer uma ligação inteligente e profícua
entre comércio e serviços, já que tinha uma passagem directa para a estação de
metro. E com esta paragem à porta, nesta avenida, e uma outra paragem, de
outras carreiras, na outra porta e avenida, em dobrando a esquina.
Os tempos foram
passando e os centros comerciais foram surgindo, quais cogumelos por entre as
pedras. As modas e as rotas comerciais dos clientes foram-se alterando e as
salas de cinemas fecharam. Tal como fechou a livraria. E a discoteca. E a loja
de bricolage. E a loja de fotografia. E outras.
Agora, tentando
sobreviver perante uma concorrência feroz, o centro está em obras, espero
(esperamos) que para melhor. E que nos ofereça de comércio e serviços aquilo
que não consta nos outros espaços comerciais uniformizados.
O que não
sobreviveu às rotas e mudanças, e que foi mesmo assassinada pelo metros e novos
troços, foi esta carreira. A 21.
O prolongamento de
uma linha de metro, que nem sequer aqui passa, fez acabar com a distribuição de
passageiros por bairros envelhecidos e deixou de haver paragens
convenientemente dispostas para residentes, serviços e comércio, tradicional ou
não.
As gestões de
rotas e frotas fez com que o serviço público de transporte de passageiros se transformasse
num negócio quase privado, em que os rendimentos económicos são bem mais
importantes que os residentes e utentes.
É difícil
extinguir um centro comercial, que não se desloca nem transfere. Já uma
carreira de autocarros…
By me
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