A existência do
Homem, dizem os especialistas, divide-se em duas grandes épocas: pré-história e
história. A fronteira, dizem ainda eles, é a invenção da escrita.
É um ponto
fulcral, então e agora. Permitiu-lhes a transmissão do conhecimento de geração
em geração sem a já clássica situação “Quem conta um conto acrescenta-lhe um
ponto!” E permite-nos saber hoje o que pensavam os antigos.
Ideográfica ou
fonética, a escrita revolucionou e existência humana.
Milhares de anos
passados, na Alemanha e atribuído a Gutemberg (há quem o conteste),
mecanizou-se a escrita. Com um esforço limitado e em pouco tempo, passou a ser
possível um número grande de cópias fiéis ao original que, irradiando da
tipografia, poderiam espalhar-se pelo mundo.
As comunidades
aproximaram-se no conhecimento e, devido à imprensa (mas não só), o acesso ao
mundo das letras tornou-se quase universal. A taxa de analfabetismo tem vindo a
reduzir gradualmente, em particular nos últimos 50 anos.
Mas, há cem anos,
mais coisa menos coisa, um outro invento vital na civilização surgiu: a
transmissão via rádio.
A possibilidade de
transmitir ideias sem recorrer a um portador e quase instantaneamente encurtou
as distâncias inter-comunitárias. As fronteiras físicas à passagem do
pensamento foram derrubadas e a tecnologia foi simplificando os processos.
Mas a
democratização do conhecimento, agora com as nóveis tecnologias de informação,
tem um problema gravíssimo: a credibilidade.
Quando vejo uma
pintura hieroglífica ou uma gravura cuneiforme, sei que quem as escreveu era um
lente na sua época. Porque poucos sabiam ler ou escrever, quem o fazia tinha as
certezas e as verdades da época e o cuidado de as deixar explícitas. Ainda que
codificadas pelos mistérios e esoterismos que a religião pudesse impor.
Ao ler um livro
impresso, identifico, sem grandes problemas, o autor, a tipografia e o editor,
atribuindo-lhes a importância que entendo. Na poesia, na técnica, na filosofia.
Gosto deste autor, exaspero-me com aqueloutro e, de uma forma ou outra, vou
criando as minhas próprias referencias.
Com a transmissão
à distância a coisa é mais complicada. Giro ou primo um botão no meio do
aparelho receptor e tenho tudo quanto é emitido ao meu alcance. Na rádio, na
TV, no telemóvel, no computador.
É todo um universo
de ideias que se encontra, em boa parte anónimo. Posso aceitar esta ou aquela
estação ou site, mas não conheço os intervenientes, os autores do que é
emitido. E mesmo estes estão ao serviço de uma empresa ou empreendimento
anónimo cujos objectivos ou ideologias me podem escapar.
Saberei eu avaliar
a verdade ou a justeza do que ali é dito, me é dito? Poderei controlar o efeito
que essa comunicação pode ter nos meus comportamentos e contra minha vontade?
Recentemente foi
criada uma empresa transnacional na América latina para transmitir informação
ao estilo da CNN. E à Al-Jazira. E ainda a outras, cada uma no seu universo
cultural e geográfico.
A guerra
electrónica de sobreposição de sinais (que já vem da guerra fria), vai
acontecendo com o bloqueio de frequências e a informação contraditória.
O mesmo tema,
tratado por estas três difusoras, tem abordagens tão diferente que não creio
que alguma delas seja completa, verdadeira ou isenta.
Assim, quando por
cá acedemos a uma estação de TV ou rádio, que vão beber nas agências
internacionais o “néctar informativo”, mais não estamos que a ser moldados de
acordo com os interesses não confessos de um ou vários grupos económico-politico-culturais.
E esta manipulação
segue-se, dia após dia, noticiário após noticiário, segundo após segundo.
O inglês, o
francês, o castelhano e o português já eu domino. Estou a pensar, muito
seriamente, em ir aprender russo, chinês, árabe e indiano.
E, depois disso,
continuar tão ou mais baralhado que antes sobre o que me cerca.
Afinal, em quem
podemos ou devemos acreditar?
Você sabe?
By me
Sem comentários:
Enviar um comentário