E pronto, é assim
que as coisas funcionam!
Fiz a fotografia
que aqui vedes no regresso do almoço, antes de voltar a enfiar-me no buraco.
Ainda tinha uns minutos e a luz estava saborosa, ainda que pudesse estar
melhor.
Foi um jogo
complicado, desviar ligeiramente a florzinha mais para o sol e colocá-la num
ponto em que o fundo estivesse tão na sombra quanto possível. E, a juntar a
este equilíbrio precário, o garantir com a minha câmara de bolso a correcta
focagem. Dificuldades de um fotógrafo mas que, por o serem e o ser, dão prazer
quando o resultado obtido é o desejado. Foi-o.
E foi-o na medida
em que sabia que, a partir da imagem original, iria ser feito um corte para
obter a proporção que queria e, eventualmente, um muito ligeiro aumento de
contraste para obter o equilíbrio luminoso que queria.
A poucos metros,
dois colegas. Que, em vendo-me nestas lides, quiseram ver o que teria eu
conseguido. Que lhes mostrei.
Comentário de um
deles:
“Então é para quê
este fundo tão negro? Não podias ter um fundo mais claro e escurecê-lo depois
no photoshop?”
Tentei
explicar-lhe, mas não sei se percebeu:
O prazer da
fotografia passa por, na tomada de vista, conseguir o efeito que se quer. O
tratamento posterior, seja de proporções, seja de ajuste de contrastes,
geometrias, cor, ou o que quer que seja, será sempre para compensar aquilo que
se não conseguiu na tomada de vista. Quer porque se foi inábil e disso só nos
apercebemos ao ver em grande num monitor, quer seja para fazer aquilo que já
sabemos querer aquando do disparo da câmara, quer seja porque, perante o
original, entendemos fazer algo de diferente e não imaginado. Mas o original
tem que sair tão próximo do que imaginámos quanto possível.
Se assim não for,
qualquer câmara de supermercado de terceira categoria faz o melhor dos
trabalhos, com um bom editor sentado depois, horas a fio, no computador.
Mas isto não é o
prazer do fotógrafo. É o prazer, quiçá real, de quem depende da tecnologia e não
de quem depende dos seus olhos e percepção do mundo circundante.
Todos os dias
trabalho com um processador de imagem. Por vezes apenas uns minutos, por vezes
horas. Mas quanto mais tempo gasto com uma imagem que fiz, tentando disfarçar
aquilo que não consegui fazer, menos satisfeito me sinto. Que, no conjunto do trabalho
que é “fotografia” (captação e processamento) falhei na primeira.
E eu não gosto de
falhar.
Olhar para uma
dada situação e jogar com luz e perspectiva, nas suas diversas vertentes, é a
maior parte do prazer de fotografar. Não fosse uma a matéria-prima e a outra a
ferramenta de um fotógrafo.
A outra parte do
prazer está em o resultado da nossa imagem ser satisfatório para nós e para
quem o vê.
By me
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