sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Liberdade



Estão sentadas à minha direita, do outro lado da coxia da carruagem. E nunca me passaria p’la cabeça tentar forçar uma fotografia. Ou mesmo pedi-la!
Talvez que mãe e filha, talvez que irmãs, uma com uns treze anitos, a outra com uns trinta e poucos.
Para além de serem bonitas, naquilo que me é dado aperceber, pouco mais delas posso dizer. Excepto aquilo que as torna invulgares por cá: são islâmicas.
Sabe-se isso p’las vestes que usam: todas cobertas, apenas visíveis o rosto e as mãos. Seguindo preceitos que não os nossos.
Nada demais aqui que não a invulgaridade. Afinal, cada um é livre de andar como quer exibindo-se ou recatando-se a seu bel-prazer. Liberdade é isso.
O problema é que não são livres. Não lhes é possível usar outras vestes que não estas. Não sei se o marido ou pai lhos imporá. Talvez. Mas certamente que nem uma nem outra quererão fazê-lo. A cultura em que cresceram impede-as de tal. Estou mesmo em crer que se sentiriam muito mal se vestissem algo próximo do que as mulheres portuguesas vestem.
Donde, não são livres de o fazer porque elas mesmo se impedem de o fazer. Ou foram condicionadas a tal.
E essa é a melhor prisão existente. A que, sem barras ou portões, nos impede de algo ou força a algo. De dentro, do nosso íntimo.
Não tenho o direito de as proibir de assim se vestirem. Afinal, não admito que me imponham algo semelhante, p’lo não o posso fazer a terceiros.
Mas lamento-as profundamente p’la prisão a que estão condenadas à nascença, impedidas de escolher o como vestir. Ou fazer.
Talvez que um dia liberdade não seja um conceito restrito a alguns mas tão natural quanto respirar. Talvez.


 By me

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