Estão sentadas à
minha direita, do outro lado da coxia da carruagem. E nunca me passaria p’la
cabeça tentar forçar uma fotografia. Ou mesmo pedi-la!
Talvez que mãe e
filha, talvez que irmãs, uma com uns treze anitos, a outra com uns trinta e
poucos.
Para além de serem
bonitas, naquilo que me é dado aperceber, pouco mais delas posso dizer. Excepto
aquilo que as torna invulgares por cá: são islâmicas.
Sabe-se isso p’las
vestes que usam: todas cobertas, apenas visíveis o rosto e as mãos. Seguindo preceitos
que não os nossos.
Nada demais aqui
que não a invulgaridade. Afinal, cada um é livre de andar como quer exibindo-se
ou recatando-se a seu bel-prazer. Liberdade é isso.
O problema é que não
são livres. Não lhes é possível usar outras vestes que não estas. Não sei se o
marido ou pai lhos imporá. Talvez. Mas certamente que nem uma nem outra quererão
fazê-lo. A cultura em que cresceram impede-as de tal. Estou mesmo em crer que
se sentiriam muito mal se vestissem algo próximo do que as mulheres portuguesas
vestem.
Donde, não são
livres de o fazer porque elas mesmo se impedem de o fazer. Ou foram
condicionadas a tal.
E essa é a melhor
prisão existente. A que, sem barras ou portões, nos impede de algo ou força a
algo. De dentro, do nosso íntimo.
Não tenho o
direito de as proibir de assim se vestirem. Afinal, não admito que me imponham
algo semelhante, p’lo não o posso fazer a terceiros.
Mas lamento-as
profundamente p’la prisão a que estão condenadas à nascença, impedidas de
escolher o como vestir. Ou fazer.
Talvez que um dia
liberdade não seja um conceito restrito a alguns mas tão natural quanto
respirar. Talvez.
By me
Sem comentários:
Enviar um comentário