domingo, 17 de novembro de 2013

Nada de mornos!



Nunca fui muito de alinhar com partidos políticos.
Que me desculpem os que a eles estão ligados e cheios de boas intenções (que os há em todos) mas a opinião que tenho de organizações partidárias não é a melhor.
Aquilo que tenho vindo a constatar ao longo dos tempos, e já são uns quantos, é que a maioria das ideias de base que os criaram, filosóficas e políticas, cedo ou tarde acabam por se desvanecer perante o interesse dos seus elementos, de cúpula ou de base. Quer se trate de interesses corporativos, em que há que defender o partido acima de tudo e de todos, quer se trate de defender o eventual poder dos seus elementos dentro ou fora do partido.
Particularmente curioso e reforçador desta minha opinião é o não saber de nenhum membro de cúpula de um partido, seja de que quadrante for, que pertença efectivamente ás chamadas classes baixas. Não sei de nenhum que viva com o Salário Mínimo Nacional, que não seja possuidor de um carro de valor acima da média, que não use de roupas de muito bom preço…
Mesmo aqueles que tiveram origens económicas baixas e que foram subindo na estrutura do respectivo partido subiram também no seu nível económico.
Falar-se em “classe política” é sinónimo de falar de gente bem na vida. Não significa falar de pessoas que tenham os mesmos problemas no quotidiano que a esmagadora maioria dos seus concidadãos.
Seja qual for o quadrante político que se considere!
Mas, tão mau ou pior é o que defendem. Melhor ainda: o que não defendem.
De nenhum partido formalizado neste país ouvi defender que o acesso à gestão da coisa pública e legislação possa ser feito por gente que não enquadrada num partido político.
O poder ser-se eleito para o parlamento é uma exclusividade dos partidos, mesmo que sob o apodo de “independente”. Como se ser-se parlamentar seja algo que exija uma “carteira profissional” emitida por “ordem” ou “sindicato”. Como se apenas os partidos contenham gente capaz de redigir leis nacionais que influam na vida de todos os cidadãos.
Esta exclusividade incomoda-me!
Porque, e em última análise, defende uma classe privilegiada do ponto de vista intelectual, fechada sobre sim mesma, alheia aos problemas reais dos cidadãos.
E, ao sê-lo e fazê-lo, considera que todos os demais – eu mesmo incluído – não somos merecedores de crédito suficiente para gerar leis nacionais.

Ao longo dos anos tenho vindo a escrutinar com alguma atenção as formações políticas que vão surgindo. Na secreta esperança que alguma delas, estatutária ou programaticamente, defenda o livre acesso dos cidadãos à casa da democracia. E tenho-o feito da extrema direita à estrema esquerda (como odeio este carimbos filosóficos!). Claro que alguns programas me agradam mais que outros. E que algumas ideias me incomodam de sobre maneira. Mas poderia ser que alguma…
Nenhum!
O conceito de “Democracia Representativa” parece estar instalado para durar e ninguém tem a coragem ou desejo de o colocar em causa em prol da “Democracia Participativa”.

Eis que surge agora um novo projecto de formação partidária.
Diz-se “do meio da esquerda” (novamente o tal carimbo identificativo), mais parecendo um chá morno que algo com vigor e energia para captar adeptos (sim, estou a fazer uma analogia com o futebol).
E, em indo dar uma olhada meio séria no que se propõe, no que publica on-line, nem uma linha à democracia participativa. Palavras bonitas, que acredito terem sido bem estudadas, misturas de conceitos como que num piscar de olhos a diversas linhas de pensamento, mas no que diz respeito à abertura da casa da democracia ao cidadão não enquadrado partidariamente nem uma palavra.

Mesmo que não fosse pelo tom morno com que se apresenta (e bem que precisamos de algo mais que isso numa altura em que há pessoas em que nem frio têm para comer) não será ainda esta formação partidária em embrião que terá o meu apoio.
Que a sensação que tive foi que estavam a apregoar um “Chega p’ra lá, que eu caibo aqui nesta brecha e também quero!”
E, já agora, travestir um slogan de séculos não é honesto. Dizer “ Liberdade, Igualdade, Solidariedade” e a seguir ao último colocar entre comas “Fraternidade”…


Irei continuar como franco-atirador, defendendo ideias sólidas, não porque sejam alinhadas mas porque acredito nelas, venham de onde vierem, conferindo-me a liberdade e o direito que querer ser ouvido e ser responsável por leis de decisões públicas à margem de partidos e organizações fechadas e conservadoras.

By me 

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