Nunca
fui muito de alinhar com partidos políticos.
Que
me desculpem os que a eles estão ligados e cheios de boas intenções (que os há
em todos) mas a opinião que tenho de organizações partidárias não é a melhor.
Aquilo
que tenho vindo a constatar ao longo dos tempos, e já são uns quantos, é que a
maioria das ideias de base que os criaram, filosóficas e políticas, cedo ou
tarde acabam por se desvanecer perante o interesse dos seus elementos, de cúpula
ou de base. Quer se trate de interesses corporativos, em que há que defender o
partido acima de tudo e de todos, quer se trate de defender o eventual poder
dos seus elementos dentro ou fora do partido.
Particularmente
curioso e reforçador desta minha opinião é o não saber de nenhum membro de cúpula
de um partido, seja de que quadrante for, que pertença efectivamente ás
chamadas classes baixas. Não sei de nenhum que viva com o Salário Mínimo
Nacional, que não seja possuidor de um carro de valor acima da média, que não
use de roupas de muito bom preço…
Mesmo
aqueles que tiveram origens económicas baixas e que foram subindo na estrutura
do respectivo partido subiram também no seu nível económico.
Falar-se
em “classe política” é sinónimo de falar de gente bem na vida. Não significa
falar de pessoas que tenham os mesmos problemas no quotidiano que a esmagadora
maioria dos seus concidadãos.
Seja
qual for o quadrante político que se considere!
Mas,
tão mau ou pior é o que defendem. Melhor ainda: o que não defendem.
De
nenhum partido formalizado neste país ouvi defender que o acesso à gestão da
coisa pública e legislação possa ser feito por gente que não enquadrada num
partido político.
O
poder ser-se eleito para o parlamento é uma exclusividade dos partidos, mesmo
que sob o apodo de “independente”. Como se ser-se parlamentar seja algo que
exija uma “carteira profissional” emitida por “ordem” ou “sindicato”. Como se
apenas os partidos contenham gente capaz de redigir leis nacionais que influam
na vida de todos os cidadãos.
Esta
exclusividade incomoda-me!
Porque,
e em última análise, defende uma classe privilegiada do ponto de vista
intelectual, fechada sobre sim mesma, alheia aos problemas reais dos cidadãos.
E,
ao sê-lo e fazê-lo, considera que todos os demais – eu mesmo incluído – não somos
merecedores de crédito suficiente para gerar leis nacionais.
Ao
longo dos anos tenho vindo a escrutinar com alguma atenção as formações políticas
que vão surgindo. Na secreta esperança que alguma delas, estatutária ou programaticamente,
defenda o livre acesso dos cidadãos à casa da democracia. E tenho-o feito da
extrema direita à estrema esquerda (como odeio este carimbos filosóficos!).
Claro que alguns programas me agradam mais que outros. E que algumas ideias me
incomodam de sobre maneira. Mas poderia ser que alguma…
Nenhum!
O
conceito de “Democracia Representativa” parece estar instalado para durar e
ninguém tem a coragem ou desejo de o colocar em causa em prol da “Democracia
Participativa”.
Eis
que surge agora um novo projecto de formação partidária.
Diz-se
“do meio da esquerda” (novamente o tal carimbo identificativo), mais parecendo
um chá morno que algo com vigor e energia para captar adeptos (sim, estou a
fazer uma analogia com o futebol).
E,
em indo dar uma olhada meio séria no que se propõe, no que publica on-line, nem
uma linha à democracia participativa. Palavras bonitas, que acredito terem sido
bem estudadas, misturas de conceitos como que num piscar de olhos a diversas
linhas de pensamento, mas no que diz respeito à abertura da casa da democracia
ao cidadão não enquadrado partidariamente nem uma palavra.
Mesmo
que não fosse pelo tom morno com que se apresenta (e bem que precisamos de algo
mais que isso numa altura em que há pessoas em que nem frio têm para comer) não
será ainda esta formação partidária em embrião que terá o meu apoio.
Que
a sensação que tive foi que estavam a apregoar um “Chega p’ra lá, que eu caibo
aqui nesta brecha e também quero!”
E,
já agora, travestir um slogan de séculos não é honesto. Dizer “ Liberdade, Igualdade,
Solidariedade” e a seguir ao último colocar entre comas “Fraternidade”…
Irei
continuar como franco-atirador, defendendo ideias sólidas, não porque sejam
alinhadas mas porque acredito nelas, venham de onde vierem, conferindo-me a
liberdade e o direito que querer ser ouvido e ser responsável por leis de decisões
públicas à margem de partidos e organizações fechadas e conservadoras.
By me
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