A
“desvantagem” de já por cá se andar há mais de meio século é ter história e
histórias quanto baste para se encher vários volumes. Sobre quase todos os
assuntos.
No
início dos anos 80, as contestações populares ao poder instituído eram
equivalentes às de hoje. Com a diferença de serem mais acutilantes e incisivas.
Um
fim de tarde, o então Ministro da Administração Interna irrompe p’los estúdios
adentro. Queria gravar uma comunicação ao país. E fê-lo.
Nela
(cadeira, mesa, fundo preto, microfone) relatava que o país estava p’la hora da
morte e que ele mesmo tinha sido objecto de um atentado. Teria havido, de
acordo com o seu relato, uma tentativa de agressão (ou interrompida a sua
marcha, já não recordo) com objectos perigosos. E exibiu uns valentes pregos,
cavilhas mesmo, que, segundo ele, teriam sido usadas nos actos descritos.
O
tom da declaração era bem mais que inflamado, com um vocabulário quase impróprio
dos ecrãs e do cargo que ocupava. Violento, mesmo. Quase que a declarar estado de
sítio em todo o país.
Alguém,
nos bastidores, apercebendo-se do que estava a ser gravado para emissão próxima,
fez uns telefonemas. Que resultaram em telefonemas de volta, manobras nos tais
bastidores e conversas serenantes.
A
gravação nunca foi emitida e, suspeito, já nem existe. Que há documentos que
levam pó de sumiço com muita facilidade, principalmente se forem magnéticos.
Aquilo
que se não apagou foi a minha memória de testemunha, p’lo menos nos aspectos
gerais: o tardio da hora, o que me foi possível de ver e ouvir, o local e o
nome do governante.
Não
me espanta, assim, ver este título num jornal de hoje.
Creio
que esta pessoa só morrerá feliz se o conseguir fazer.
By me
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