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Oh pai? A água ferve a 90º?
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Não, filho, que disparate! A água ferve a 100º.
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Ah, pois… A 90º ferve o ângulo recto!
Piadas
à parte, a verdade é que quantificamos tudo na vida. Pesos, volumes,
distâncias, temperaturas, energias, tempo… Ainda não quantificaram os afectos,
mas creio que não faltará muito.
Com
as artes e as expressões pessoais, o mesmo se passa. Nas métricas, nos ritmos,
nas proporções, nos equilíbrios… As fórmulas algébricas definem à priori ou
explicam à posteriori aquilo que apeteceu fazer, aquilo que o criador entendeu
por bem materializar.
E
estas quantificações impõem regras e normativos. Que, por um lado, definem e
generalizam o conceito de qualidade e, por outro, padronizam técnicas e
materiais usados por cada um para se exprimir. E tente-se lá encontrar uma tela
redonda para pintar…
Com
a fotografia sucede exactamente o mesmo!
Submergida
que está à ditadura das normalizações dos fabricantes, é difícil a roçar a
impossibilidade de se lhes fugir. E se fabricarmos nós mesmos os materiais
(equipamento e consumíveis) é quase uma impossibilidade, as expressões de
surpresa ou de desprezo por parte de quem atende o público ao lhe ser pedido um
trabalho não normalizado acaba por ser hilariante, se não fosse trágico.
Tente-se
mandar imprimir uma fotografia a partir de negativo ou de ficheiro digital que
tenha, por exemplo, uma proporção de 1:7,5. Suspeito que só alguma lei
recôndita e obscura que impede os empregados de balcão de rirem, inibe o
ouvir-se uma valente gargalhada. E provocaria uma chamada de urgência para o
hospício mais próximo que pedíssemos um enquadramento trapesoidal irregular.
O
alfa-numérico das regras, leis e normalizações é tão castrante quanto um
capador de porcos.
E
o ângulo recto, com os seus 90º exactos, da esquadria do nosso enquadramento é
a cereja no topo do bolo!
By me
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