A
propósito do Instagram e outros programas e sites onde as fotografias são
publicadas depois de serem objecto de modificação com filtros, recorda-me uma
estória televisiva.
O
programa “João Baião”, nas noites de sábado da SIC, tinha uma linguagem de
imagem inovadora em Portugal: quase não havia planos ou imagens paradas e o
conceito de câmara estável parecia não existir. Na altura, alguém classificou
esta linguagem de “televisão em movimento”. E fez escola, passados que são
todos estes anos.
Aquilo
que pouco foi divulgado é que esse tipo de imagem não surgiu como conceito estético
mas como solução encontrada “em cima do joelho”. Aquelas horas todas de emissão,
com todo aquele espaço e o tentar dar dinamismo visual limitava em muito o uso
de tripés ou pedestais para as câmaras. E as câmaras portáteis da época,
pesadas que eram, tornavam impossível o seu uso medianamente estável ao ombro ou
à mão durante tanto tempo.
Assim,
a opção foi tornar uma limitação em estilo e assumir, logo de início do
programa, a instabilidade da imagem, forçando mesmo o seu abanar e movimentos rápidos
e pouco “certeiros”.
Foi
esta abordagem particularmente criticada na altura, até porque o próprio público
se cansava da falta de estabilidade. E foi imitada em diversas circunstâncias,
com ou sem sucesso.
Passados
todos estes anos, esta abordagem visual é um estilo, intitulado “câmara à mão”
nos meios académicos. Assume-se a ausência de estabilidade.
Mas
é usada de forma parcimoniosa, como código de comunicação ou estilo visual, empregue
se e quando se justifica.
Os
filtros que modificam ou “estragam” as fotografias são idênticos. São usados
para, com um carimbo de “arte”, disfarçar as incapacidades técnicas ou
criativas dos seus autores. Desfocada, mal enquadrada, deficientemente exposta,
tremida… uns filtros de riscos, cores, redutores de definição ou excesso de
saturação e transforma-se aquilo que não se sabe fazer numa “obra de arte”.
Toda
a experiência e inovação é necessária e bem-vinda! E a necessidade é a mãe da
invenção.
Mas
transformar uma poia de vaca em bosta de arte bovina…
Sugiro,
para aquele que alinham nestas modas estéticas, que vão aprender os percursos
daqueles que de facto inovaram na criatividade. Descobrirão que se trataram de
inovações pensadas, argumentadas, decisões conscientes no romper com o classicismo
e o convencional. E não por modismos tecnológicos, sugeridos por quem quer
vender equipamento ou software. E também não para disfarçar o não saber o que é
luz e perspectiva.
By me
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