Criar
uma conversa simpática e divertida não é difícil. Bem pelo contrário!
Uma
das minhas fórmulas é simples: negue-se, a um interlocutor desconhecido, uma
afirmação por ele proferida e por ele sabida como certa e inquestionável!
Lá
no meu “Oldfashion”, já estou habituado a usá-las e uma delas é a que se segue:
Se
me afirma que tem lá em casa uma fotografia tirada, em tempos recuados, por uma
câmara como a minha, afirmo que não tem. O olhar espantado é garantido e a
insistência também. Eu mantenho a minha, chegando ao ponto, se a conversa o
permite, de apostar o meu salário de um ano inteiro contra o que ele ou ela
tiver na carteira na altura. Ainda ninguém aceitou a aposta, mas todos querem
saber como posso ter tamanha certeza.
E
é a minha vez de responder, com um sorriso maroto, que ninguém lhe tirou aquela
fotografia, pois, caso contrário, já não a teria. Mas que lha terão feito e que
a tenha em casa, não duvido.
Sorrisos,
por vezes mesmo gargalhadas, um pedido de que me não levem a mal, pois que
gosto de brincar com as pessoas, e o gelo está quebrado. Em 75% dos casos, faço
mais uma imagem para o meu projecto.
Desta
feita, a coisa foi diferente!
Tinha
comprado o que se vê na imagem numa barraca de suposto artesanato africano. Os
motivos da compra não vêm agora ao caso, mas sempre posso adiantar que tenho
várias caixas com objectos semelhantes.
Pois
em chegando ao barzinho da estação, em Lisboa e no regresso a casa, pousei-o em
cima do balcão para poder lidar com a chávena, a colher e o açúcar do café que
me haveria de manter acordado na viagem.
A
empregada que me atendeu olhou para ele e perguntou, espantada:
“Que
raio é isto?”
A
minha resposta foi curta e esclarecedora:
“Isso
mesmo que está a pensar!”
Da
outra esquina do balcão um dos três vigilantes que faziam uma pausa na sua
ronda afirma:
“É
um camelo!”
E
logo outro começou a trautear o refrão de uma velha cantiga de um programa
infantil de tempos distantes:
“O
Areias / é um camelo / tem duas bossas / e muito pelo.”
Pois
eu, segurando a chávena entre duas sopradelas de arrefecimento, retorqui
placidamente:
“Não
é, não!”
“Como
não!?”, logo perguntaram “Talvez uma girafa, mas mais parece um camelo.”
Pousando
a chávena, esclareci:
“Não
é uma girafa, mas também não é um camelo, garanto. Sabe, o camelo tem duas
bossas e este só tem uma. É um dromedário!”
O
mais velho dos três vigilantes não perdeu a ocasião e alargou o âmbito da troca
de opiniões:
“Pois
olhe que ele há por aí muitos camelos, sem bossa nenhuma, mas com duas pernas!”
Generalizou-se
a conversa, empregadas de um lado, vigilantes do outro, eu mesmo na outra ponta
do balcão, bem como um casal, que entretanto tinha chegado e que se debatia com
uns sumos não sei de quê, acompanhados com não sei já que bolos.
Quando
saí, em busca da nicotina que completaria a cafeína, faziam-se comparações
entre o reino animal e o bicho-homem, com burros, ursos, cabras, cobras,
águias, mulas, leões e outros.
O
incómodo do fim de dia e o ainda inabitual pôr-do-sol a desoras tinham ficado à
porta e todos eles levavam mais uma historinha para contar em casa.
Tal
como eu mesmo, bem como a satisfação extra de ter distribuído uma mão cheia de
sorrisos, completamente de borla.
By me
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