sábado, 2 de novembro de 2013

Cumplicidades



É uma cumplicidade gostosa de se ver.
Naquele entretanto que separa um cafezinho do primeiro mergulhar no trabalho, ou naquele outro que se segue a um almoço comido razoavelmente a correr, ver esta gata, matrona e decana lá onde trabalho, se aproximar de algumas pessoas.
Só de algumas, que tal como os humanos, também tem os seus gostos.
E é interessante ver como as reconhece à distância e para elas caminha, com a calma de se saber no seu território e de saber que os afagos são garantidos.
É ela “selvagem”, na medida em que não habita em nenhuma casa. É ela “selvagem”, na medida em que o seu território está bem demarcado e não aceita intrusos, seja na relva seja nos arbustos. É ela “selvagem” na medida em que foi a única que se não deixou apanhar aquando de uma campanha de esterilização que aqui decorreu. Por muito que se esforçassem p’la fome e engodo os que o tentaram.
Mas é uma doçura ver a terapia de carícias recíprocas que diariamente acontecem, não sabendo eu quem, se alguém, mais lucra com elas.

E eu fico invejoso. Só raramente se aproxima de mim ronronando para umas marradinhas, roços ou festas. Que não nego nem forço, que o seu direito a preferências é igual ao meu.
Mas bem que gostaria de mergulhar nos gammas e knees, fibras e servs, flares e contrastes, com a tranquilidade que vejo na cara desta minha colega depois destes minutos de intimidade pública.
Poderia optar, como tantos outros fazem, por ter um em casa. Não o faço!
Que não me sinto no direito de obrigar um gato (ou um cão, ou um canário, ou mesmo um peixe) a viverem dentro de quatro paredes, cobiçando o exterior e impedidos de a ele acederem. Se não o quero para mim, não o imporei a outros.
Quando ela, a gata, de mim se aproxima para que nos partilhemos, fico a saber que ganhei o direito a viver um pouco mais.


By me

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