Vou
deixar de parte a óbvia interpretação política do ser obrigatório seguir em
frente ou virar à direita.
Vou,
antes sim, contar que este sinal é muito igual a tantos outros que se encontram
espalhados p’la cidade. Neste caso particular, nas avenidas novas, em Lisboa.
Em
duas delas, a av. 5 de Outubro e a av. Defensores de Chaves, em cruzamento
algum é permitido virar à esquerda. Não sei se fará sentido ou não, já que não
conduzo automóvel.
Mas
sei, em contrapartida, que durante anos a fio estiveram ali colocados os
respectivos sinais de proibição: fundo branco, coroa vermelha, traço vermelho,
seta em ângulo recto para a esquerda.
Um
dia, há anos, todos esses sinais de trânsito desapareceram. Foram substituídos por
estes, suponho que então limpinhos e sem excepções depois acrescentadas. E
passou a haver obrigações no lugar de proibições.
Soube
de alguém que então estava ligado ao departamento de trânsito lisboeta, que
esta alteração semiótica não foi inocente: é que se torna mais simpático haver
obrigações que proibições, tornando a condução menos stressante. E que, por
outro lado, os sinais de proibição, fossem eles quais fossem, seriam mais visíveis
aos condutores, já que deixaria de haver vermelhos em todos os cruzamentos.
Espertinhos,
estes engenheiros de trânsito: no lugar de proibições impõem obrigações do seu
oposto. No lugar de castrantes proibidores surgem como simpáticos impositores.
Que o azul é mais simpático que o vermelho.
Claro
está que tudo fica na mesma: não é permitido virar à esquerda.
Fica-me,
muito naturalmente, aquela dúvida: foi este método de impor o mesmo por outros
processos aprendido p’los políticos junto de um engenheiro de trânsito ou
apercebeu-se ele das manobras governamentais e decidiu pô-las em prática?
E,
em tom de complemento, deixo uma sugestão: repare-se como a sinalética do código
da estrada, tal como todas as leis, está repleta de proibições e obrigações,
ficando relegado p’ra um segundo ou terceiro plano a questão das sugestões ou
informações.
Está
a sociedade cheia de obrigações e proibições, ficando as questões éticas ou
afectivas escondidas ou remetidas p’ra um qualquer canto obscuro que convém não
descobrir. Que quando o cidadão pensa por si e faz opções o poder treme até aos
alicerces.
Nota
final: quando estes sinais e limitações de trânsito foram colocados, pensámos,
eu e mais uns quantos de maduros, em os atacar numa noite de domingo p’ra
segunda. Equipados com ferramentas, escadotes e mapas por nós criados, inverteríamos
todas as obrigações e proibições, conduzindo todo o trânsito nestas avenidas a
cruzamentos sem saída permitida.
Faltou-nos
gente que chegasse e equipamento de comunicação que nos alertasse sobre a
chegada de patrulhas policiais. E, talvez, um pouco mais de coragem.
By me
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