sábado, 16 de novembro de 2013

Psicologia de massas



Vou deixar de parte a óbvia interpretação política do ser obrigatório seguir em frente ou virar à direita.
Vou, antes sim, contar que este sinal é muito igual a tantos outros que se encontram espalhados p’la cidade. Neste caso particular, nas avenidas novas, em Lisboa.
Em duas delas, a av. 5 de Outubro e a av. Defensores de Chaves, em cruzamento algum é permitido virar à esquerda. Não sei se fará sentido ou não, já que não conduzo automóvel.
Mas sei, em contrapartida, que durante anos a fio estiveram ali colocados os respectivos sinais de proibição: fundo branco, coroa vermelha, traço vermelho, seta em ângulo recto para a esquerda.
Um dia, há anos, todos esses sinais de trânsito desapareceram. Foram substituídos por estes, suponho que então limpinhos e sem excepções depois acrescentadas. E passou a haver obrigações no lugar de proibições.
Soube de alguém que então estava ligado ao departamento de trânsito lisboeta, que esta alteração semiótica não foi inocente: é que se torna mais simpático haver obrigações que proibições, tornando a condução menos stressante. E que, por outro lado, os sinais de proibição, fossem eles quais fossem, seriam mais visíveis aos condutores, já que deixaria de haver vermelhos em todos os cruzamentos.
Espertinhos, estes engenheiros de trânsito: no lugar de proibições impõem obrigações do seu oposto. No lugar de castrantes proibidores surgem como simpáticos impositores. Que o azul é mais simpático que o vermelho.
Claro está que tudo fica na mesma: não é permitido virar à esquerda.

Fica-me, muito naturalmente, aquela dúvida: foi este método de impor o mesmo por outros processos aprendido p’los políticos junto de um engenheiro de trânsito ou apercebeu-se ele das manobras governamentais e decidiu pô-las em prática?
E, em tom de complemento, deixo uma sugestão: repare-se como a sinalética do código da estrada, tal como todas as leis, está repleta de proibições e obrigações, ficando relegado p’ra um segundo ou terceiro plano a questão das sugestões ou informações.
Está a sociedade cheia de obrigações e proibições, ficando as questões éticas ou afectivas escondidas ou remetidas p’ra um qualquer canto obscuro que convém não descobrir. Que quando o cidadão pensa por si e faz opções o poder treme até aos alicerces.

Nota final: quando estes sinais e limitações de trânsito foram colocados, pensámos, eu e mais uns quantos de maduros, em os atacar numa noite de domingo p’ra segunda. Equipados com ferramentas, escadotes e mapas por nós criados, inverteríamos todas as obrigações e proibições, conduzindo todo o trânsito nestas avenidas a cruzamentos sem saída permitida.

Faltou-nos gente que chegasse e equipamento de comunicação que nos alertasse sobre a chegada de patrulhas policiais. E, talvez, um pouco mais de coragem.

By me 

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