domingo, 22 de janeiro de 2012

Toma-lá-dá-cá




Na esmagadora maioria dos negócios, ambos o querem: um quer vender, o outro quer comprar.
Para definir o valor daquilo que está a ser negociado foi inventado, há muitos séculos, o dinheiro. Suponho que quando se fala no pecado original se esteja a falar disso.
Que, baseado no dinheiro, todos os negócios se tornam frios, sem qualquer emotividade. O comprador, ao ver um bem que pretende, entrega de volta o valor fiduciário estipulado pelo vendedor. Eventualmente com algum regateio, mas é assim que funciona.
Mas há um outro tipo de negócio, bem apreciado pela canalha miúda, que se chama troca. Cada um quer um objecto que o outro possui e é um toma-lá-dá-cá, bem por bem. Eventualmente a raridade de um deles fará com que por um bem se receba ou entregue mais que um exemplar do outro, mas será sempre objecto por objecto, com uma equivalência de valores calculada por ambos mas em referencial externo. Para satisfação das partes.
Sem pecado original.
Mas creio ter encontrado a quinta essência do negócio. Um toma-lá-dá-cá em que as partes não sabem com rigor o que vão receber. Mas que, em terminado o negócio, ambas estão satisfeitas. Sem avaliações nem comparações prévias ao que está a ser trocado. Em que o único valor que está em causa é cada uma delas dar e receber o que necessita e tem. Apenas isso.
O meu projecto de troca assim se baseia e nem eu esperava que fosse tão longe.
Quem comparece sabe que vai aprender algo sobre fotografia. Não sabe que aspecto técnico ou estético ou filosófico da fotografia irá aprender.
Pela minha parte, peço apenas que seja algo feito pelo próprio. Nem desconfio o que possa ser trazido
Sei, por aquilo que oiço e vejo, que o que é trazido para estes encontros é pensado com cautela, escolhido com esmero e, afirmo-o sem correr o risco de me enganar, feito e entregue com afecto.
Por mim, organizo conteúdos e métodos, pensado no que podem ou não saber e até que ponto o que lhes possa transmitir lhes pode ser útil. E avanço de acordo com as necessidades e características de cada um dos presentes.
O que tem acontecido, bem mais que receber, bem mais que trocar, é dar. Sem negócio pelo caminho nem valores equivalentes.
No caso de hoje falámos de luz e medições, do “japonês inteligente que vive nas câmaras” e de algumas formas de o pôr a trabalhar para nós como queremos que ele trabalhe.
Em troca recebi um desenho feito por um jovem participante, um marcador de livros feito com uma fotografia original e dois potes de marmelada diferentes.
Mas estou em crer que quem ganhou com este “negócio” fui eu. Que o ver os participantes, os previamente combinados e os que apareceram entretanto, com aquele brilhinho especial de quem descobriu algo de novo…

Na imagem, apenas os potes. Que tenho que os fotografar antes de os saborear. Quanto aos outros, esses vão para aquele cantinho especial que tenho e que creio que todos têm. Mesmo que o não confessem, até porque não é nem política nem economicamente correcto afirmar que se está a usar o sistema para derrubar o sistema.

Texto e imagem: by me

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