quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Política à margem de partidos




Esta senhora que conheço tem quase trinta anos e conta que é originária de uma família humilde, que o pai saiu do país cedo e que tem mais de onze tios, todos criados com muita dificuldade.
Apesar de tudo isso, e do mais que não contou nem conto eu, conseguiu concluir um curso superior. E que o trabalho que agora tem, apesar de ser na linha do seu curso, ainda não é o que ambiciona. Diz ela que não desiste de o conseguir.
Até aqui tudo bem. Só posso aplaudir o seu esforço e empenho, bem como o sucesso. E o não baixar os braços e continuar a lutar pelo seu sonho. É de gente desta que precisamos, aparentemente. É que…
É que me dói a alma, bem lá no fundo, o ela assumir-se de direita!
Não isso em particular, que muitos são os que afirmam e que parece que o praticam, mas que no fundo o fazem como forma de afirmação social ou de identificação grupal.
O que me dói é ela defender, convicta, a fractura social e a separação de classes. Bem como a indiferença para com os que não conseguem, por motivos endógenos ou exógenos, triunfar como ela.
Pior ainda, o afirmar sem pejo que aqueles que não têm capacidades que se cuidem. Que a sociedade não os tem que apoiar e que “Se não conseguem, temos pena!”
O que me assusta nesta senhora, quase que ainda mocinha, é que o mais natural é ela vir a ser “engolida” pela máquina triturador que é a sociedade em que vivemos. E que, mesmo que sobreviva (e desejo bem que sim e que concretize os seus sonhos) será sempre uma frustrada, que haverá sempre alguém que lhe provocará “inveja”, pois conseguiu ir ainda mais longe que ela.
É que, nesse seu anseio e frustração, aumentará o desprezo e indiferença para com aqueles que não têm a sua força e capacidade.
Tenho pena por ela, que irá sofrer, pois irá encontrar no seu caminho gente tão ou mais ambiciosa que ela pela vitória e poder. E que a tratará exactamente como ela trata os que lhe estão “abaixo”.
E tenho pena de todos nós, pois que ela não é caso isolado. É que não são tão poucos quanto isso os que ombreiam na sua forma de pensar e agir. Do mesmo grupo etário. E muitos com o mesmo tipo de origens humildes mas honrosas.

O Homem é o único que mata o seu igual por “dá cá aquela palha”. E esta mulher e os seus semelhantes, são bons representantes do género humano como o conhecemos hoje.
Mas, apesar disso, ainda somos bastantes os que por cá andamos a fazer o possível para que, se ela falhar ou se ela necessitar, tenha o apoio de que irá precisar por parte de quem a cerca: todos nós. Esse mesmo apoio que ela agora nega aos outros.
Tal como farei – faremos – os possíveis por inverter este processo social e transformar o mundo num local onde gostaria que os meus filhos vivessem.
Que não o é hoje por causa de pessoas como ela.

Texto e imagem: by me

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