Esta senhora que
conheço tem quase trinta anos e conta que é originária de uma família humilde,
que o pai saiu do país cedo e que tem mais de onze tios, todos criados com
muita dificuldade.
Apesar de tudo
isso, e do mais que não contou nem conto eu, conseguiu concluir um curso
superior. E que o trabalho que agora tem, apesar de ser na linha do seu curso,
ainda não é o que ambiciona. Diz ela que não desiste de o conseguir.
Até aqui tudo bem.
Só posso aplaudir o seu esforço e empenho, bem como o sucesso. E o não baixar
os braços e continuar a lutar pelo seu sonho. É de gente desta que precisamos,
aparentemente. É que…
É que me dói a
alma, bem lá no fundo, o ela assumir-se de direita!
Não isso em
particular, que muitos são os que afirmam e que parece que o praticam, mas que
no fundo o fazem como forma de afirmação social ou de identificação grupal.
O que me dói é ela
defender, convicta, a fractura social e a separação de classes. Bem como a
indiferença para com os que não conseguem, por motivos endógenos ou exógenos,
triunfar como ela.
Pior ainda, o
afirmar sem pejo que aqueles que não têm capacidades que se cuidem. Que a
sociedade não os tem que apoiar e que “Se não conseguem, temos pena!”
O que me assusta
nesta senhora, quase que ainda mocinha, é que o mais natural é ela vir a ser “engolida”
pela máquina triturador que é a sociedade em que vivemos. E que, mesmo que
sobreviva (e desejo bem que sim e que concretize os seus sonhos) será sempre
uma frustrada, que haverá sempre alguém que lhe provocará “inveja”, pois
conseguiu ir ainda mais longe que ela.
É que, nesse seu
anseio e frustração, aumentará o desprezo e indiferença para com aqueles que não
têm a sua força e capacidade.
Tenho pena por
ela, que irá sofrer, pois irá encontrar no seu caminho gente tão ou mais
ambiciosa que ela pela vitória e poder. E que a tratará exactamente como ela
trata os que lhe estão “abaixo”.
E tenho pena de
todos nós, pois que ela não é caso isolado. É que não são tão poucos quanto isso
os que ombreiam na sua forma de pensar e agir. Do mesmo grupo etário. E muitos
com o mesmo tipo de origens humildes mas honrosas.
O Homem é o único
que mata o seu igual por “dá cá aquela palha”. E esta mulher e os seus semelhantes,
são bons representantes do género humano como o conhecemos hoje.
Mas, apesar disso,
ainda somos bastantes os que por cá andamos a fazer o possível para que, se ela
falhar ou se ela necessitar, tenha o apoio de que irá precisar por parte de
quem a cerca: todos nós. Esse mesmo apoio que ela agora nega aos outros.
Tal como farei –
faremos – os possíveis por inverter este processo social e transformar o mundo
num local onde gostaria que os meus filhos vivessem.
Que não o é hoje por
causa de pessoas como ela.
Texto e imagem: by
me
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