segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Gaiolas




É um dos problemas dos arquitectos, que projectam edifícios de habitação: fazer com que cada metro quadrado de cada divisão seja útil, para além de agradável.
E este problema é maior ainda quando os metros quadrados são escassos.
Uma das soluções, quando os custos são factor importante, é encostar as janelas aos extremos das divisões. O rendimento luminoso na divisão é menor, mas a parede onde ela é implantada fica parcialmente livre para encostar um móvel, se for esse o caso.
Mas, quer a janela esteja encostada, quer esteja central, olhar para um prédio de apartamentos é quase de ficar com os olhos em bicos, de tão regular e uniforme que as fachadas são.
E esse será um dos problemas acrescidos dos arquitectos, pelo menos aqueles que realmente se preocupam com as questões estéticas, bem como com as questões de domínio territorial, que cada residente terá, tentando “demarcar” a sua área de parede exterior. Por vezes com um estendal diferente do do vizinho, outras com as floreiras que coloca, com a forma como fecha as varandas, até mesmo com os autocolantes que aplica nos vidros.
E essa cacofonia visual criada por quem se preocupa com o seu espaço, esquecendo que o todo também é seu, é quantas vezes de fazer baixar os olhos e evitar olhar para cima.
Pois aqui na minha freguesia um ou mais arquitectos encontraram uma forma de quebrar essa monotonia de fachada, fazer render o espaço interior e de alguma forma diminuir a vontade de quem ali reside “marcar território”.
Deveras invulgar de ver, pelo menos não costumo encontrar, é esta solução de desalinhar as janelas e varandas, criando, ainda que repetida, assimetria frontal do prédio.
Nesta zona de Mem Martins, ainda que com variações de cores, áreas interiores e de janela, a solução foi comum a vários prédios e ruas.
Em tempos, há já bastantes, estas diferenças de apartamentos passavam pela diferenciação no desenho das janelas por andar, forma, cantaria e área.
A economia nos custos de construção assim o impede hoje, mas há sempre alternativas, desde que haja criatividade e alguma cedência por parte do dono da obra.

Texto e imagem: by me

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