quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Manifesto de um consumidor




Sou consumidor! Não posso deixar de o ser!
Tenho que comer, tenho que me vestir (infelizmente), tenho que habitar, tenho que satisfazer os meus desejos de criar e aprender… Sou consumidor!
Mas não sou um consumidor à-toa. Ainda que nem sempre o consiga fazer, procuro consumir o que quero, quando quero e como quero, e tentar que tudo isso não aconteça de acordo com moda, desejos de vendedor ou necessidades de escoamento de produtos de fabricantes. E, garantidamente, não aquilo que os “criadores de modas” vestuário ou tecnológicas – me querem pôr a consumir.
Sou um consumidor (ou penso que sou) um pouco diferente da mediania. E em querendo consumir produtos que não existem, dou as voltas que posso para os ter. E há produtos que me recuso a consumir.
Um dos exemplos dos produtos que me recuso a consumir e a que só recorro em ultimíssima instância, são os oriundos de França. Ainda que no campo das artes (várias, fotografia incluída), no campo da filosofia e até no campo das tecnologias, a França nos tenha brindado ao longo dos tempos com excelentes momentos e criações, não lhes perdoo nem o que fizeram aquando dos tratado de não proliferação de armas nucleares (que as foram testar no Pacífico ou, se preferirem, no quintal dos outros) nem as atitudes xenófobas que desde longe, e muito recentemente também, têm vindo a manifestar.
Um outro exemplo de produtos que não consumo são o que são vendidos numa cadeia de supermercados internacional. Sei que alguns dos produtos que ali são vendidos são de qualidade; sei que alguns dos preços que praticam são bem concorrenciais; mas também sei boa parte dos produtos que ali são disponibilizados são “made in eu”, sem denominação específica do país de origem. E eu faço questão de saber em que país ou região do globo é fabricado o que consumo, para poder aceitar ou recusar negociar com esse ou esses países/regiões. Não tendo eu essa informação, não consumo. E como me dá muito trabalho estar a investigar cada artigo que coloco no meu carrinho de compras, não frequento essa cadeia de supermercados.

Vem toda esta conversa a propósito da recente polémica de um empresário português de peso na nossa economia ter decidido e executado uma significativa transferência de negócios para outro país, mais favorável em termos de impostos. É ele, entre outras coisas, o dono de uma importante cadeia de supermercados em Portugal.
Por mim, que sou um consumidor razoavelmente exigente, que só consumo o que quero, quando quero, como quero e onde quero (pelo menos gosto de pensar e agir assim) deixarei de consumir nas suas lojas.
Se ele entende – e creio que estará no direito de o fazer – que parte do lucro dos seus negócios, e que resultam também dos esforço dos meus concidadãos, não deve reverter para o país que o viu nascer e lhe dá a nacionalidade, eu entendo que ele não deve lucrar com o meu consumo, indo eu fazê-lo junto de quem em agrade.

Prefiro beber uma garrafa de vinho só de quando em vez mas que me saiba bem e dê prazer, a beber frequentemente zurrapas, só porque são baratas e alguém me diz que estão na moda. E ele há tanto e tão bom por cá…

(Nota extra: por uma vez, até consigo concordar com um parlamentar que representa um partido com o qual estou quase sempre em desacordo de principio e de actos)


Texto e imagem: by me

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