Sei-o porque mo
disse.
Que isto de usar
barba longa cria uma espécie de irmandade entre portadores. E, usando disso,
perguntei-lho.
E disse-me que
esta barba tem quarenta anos. Que a deixou crescer desde que entrou na Legião
Estrangeira e que nunca mais a tirou. Vai cuidando dela de quando em vez, mas
não tanto quanto devia.
Mas disse-me mais!
Disse-me que,
enquanto lá esteve e até a filha morrer, com seis anitos, falou com ela usando
cassetes, que mandavam um para o outro pelo correio.
E disse-me porque
havia entrado na Legião. E porque havia saído. E o que foi fazendo de então
para cá, numa espiral descendente não recomendável.
E falou-me da sua
casa, um contentor com horta e tudo, que toda a gente tem que ter o seu buraco.
E contou-me dos
vícios que teve e que deixou.
E falou-me de
política e políticas económicas e de como alguns graúdos, que tratou pelo nome,
foram responsáveis por parte deles.
E foi contando,
contando, contando, irmanados que estávamos por barbas, vontade de contar e
vontade de ouvir.
No fim pedi-lhe
para fazer uma fotografia.
Em troca pediu-me,
envergonhado, uns trocos para ir beber um copo, na tasca logo ali ao lado. Se
mais nada fosse, esta honestidade cúmplice merecia-o.
Fica o retrato.
Até ao próximo episódio, Sr. Silvério.
Texto e imagem: by
me
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