sábado, 21 de janeiro de 2012

A barba




Sei-o porque mo disse.
Que isto de usar barba longa cria uma espécie de irmandade entre portadores. E, usando disso, perguntei-lho.
E disse-me que esta barba tem quarenta anos. Que a deixou crescer desde que entrou na Legião Estrangeira e que nunca mais a tirou. Vai cuidando dela de quando em vez, mas não tanto quanto devia.
Mas disse-me mais!
Disse-me que, enquanto lá esteve e até a filha morrer, com seis anitos, falou com ela usando cassetes, que mandavam um para o outro pelo correio.
E disse-me porque havia entrado na Legião. E porque havia saído. E o que foi fazendo de então para cá, numa espiral descendente não recomendável.
E falou-me da sua casa, um contentor com horta e tudo, que toda a gente tem que ter o seu buraco.
E contou-me dos vícios que teve e que deixou.
E falou-me de política e políticas económicas e de como alguns graúdos, que tratou pelo nome, foram responsáveis por parte deles.
E foi contando, contando, contando, irmanados que estávamos por barbas, vontade de contar e vontade de ouvir.
No fim pedi-lhe para fazer uma fotografia.
Em troca pediu-me, envergonhado, uns trocos para ir beber um copo, na tasca logo ali ao lado. Se mais nada fosse, esta honestidade cúmplice merecia-o.
Fica o retrato. Até ao próximo episódio, Sr. Silvério.

Texto e imagem: by me

Sem comentários: