Será bem
interessante saber que conclusões tirarão eventuais arqueólogos, daqui por dois
ou três mil anos, sobre os vestígios que hoje vamos deixando.
Isto porque, e
apesar de toda a sobranceira que vamos mostrando, os documentos que são criados
agora, mesmo considerando as actuais técnicas, não são eternos e perecerão como
tudo o resto.
Para além dos milhões
de Kms de cabos e tubos enterrados, das estradas alcatroadas (se sobreviverem)
e das ruínas dos edifícios (se o ferro não enferrujar e o betão não ficar
reduzido a poeira), restarão pedaços do que construímos hoje, quiçá encontrados
por acaso, e que darão algum trabalho aos estudiosos do futuro.
Este é um bom
exemplo.
Tropecei nisto
porque procurava o que lhe esteve agarrado e já aqui não está. E certezas da
sua função só as tive porque sabia com exactidão o que ali faltava. Objecto
esse que, por sinal, se erguia na esquina da minha rua e que já foi objecto de
algumas investidas fotográficas da minha parte.
O facto de só
restar o que aqui se vê é bem sintomático dos tempos que correm e da penetração
das tecnologias de informação na sociedade, mesmo num bairro suburbano, dormitório
e residência de classe média-baixa e baixa.
A ânsia da afirmação
social, bem alimentada pela publicidade e com o incentivo dos nossos
governantes, tem levado a que os cidadãos se encham de bric-à-brac’s inúteis,
maravilhas da indústria que acabam por ficar esquecidas nos recantos das casas
quando substituídas por um novo e mesmo a novidade a ser usada mais por moda e
demonstração de posse que por real necessidade.
Este vestígio
arqueológico contemporâneo é o que resta de uma cabine telefonia pública,
colocada numa rua cá do bairro. Sendo certo que não o tenho visto vandalizado e
que não existem sinais de acidente, o só restar isto é sinal que foi
deliberadamente retirado.
Não me recordo de
o ver a ser usado mais que uma vez por semana, se tanto, apesar de me não ficar
em caminhos que percorra mas tão só à margem do que faço de casa para o café. Nem
mesmo o deste é muito usado.
Provavelmente os
custos de manutenção, aliadas às eventuais taxas de ocupação de solo, tornaram
esta cabine telefónica, mais que uma fonte de rendimento, uma despesa inútil.
Já quase ninguém,
se alguém, sabe o que são ou foram as “troncas”. As “meninas telefonistas” hoje,
mais que mães, serão avós e reformadas. Das manivelas já nem falo e os próprios
discos já só se encontram nos museus e feiras de velharias. Eu mesmo, que do
telefone faço um uso menos que mínimo, já sou uma espécie em vias de extinção.
Pergunto-me que
dirão os arqueólogos, daqui por dois mil anos, se encontrarem uma coisa destas.
Texto e imagem: by
me
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