quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Arqueologia contemporânea




Será bem interessante saber que conclusões tirarão eventuais arqueólogos, daqui por dois ou três mil anos, sobre os vestígios que hoje vamos deixando.
Isto porque, e apesar de toda a sobranceira que vamos mostrando, os documentos que são criados agora, mesmo considerando as actuais técnicas, não são eternos e perecerão como tudo o resto.
Para além dos milhões de Kms de cabos e tubos enterrados, das estradas alcatroadas (se sobreviverem) e das ruínas dos edifícios (se o ferro não enferrujar e o betão não ficar reduzido a poeira), restarão pedaços do que construímos hoje, quiçá encontrados por acaso, e que darão algum trabalho aos estudiosos do futuro.
Este é um bom exemplo.
Tropecei nisto porque procurava o que lhe esteve agarrado e já aqui não está. E certezas da sua função só as tive porque sabia com exactidão o que ali faltava. Objecto esse que, por sinal, se erguia na esquina da minha rua e que já foi objecto de algumas investidas fotográficas da minha parte.
O facto de só restar o que aqui se vê é bem sintomático dos tempos que correm e da penetração das tecnologias de informação na sociedade, mesmo num bairro suburbano, dormitório e residência de classe média-baixa e baixa.
A ânsia da afirmação social, bem alimentada pela publicidade e com o incentivo dos nossos governantes, tem levado a que os cidadãos se encham de bric-à-brac’s inúteis, maravilhas da indústria que acabam por ficar esquecidas nos recantos das casas quando substituídas por um novo e mesmo a novidade a ser usada mais por moda e demonstração de posse que por real necessidade.
Este vestígio arqueológico contemporâneo é o que resta de uma cabine telefonia pública, colocada numa rua cá do bairro. Sendo certo que não o tenho visto vandalizado e que não existem sinais de acidente, o só restar isto é sinal que foi deliberadamente retirado.
Não me recordo de o ver a ser usado mais que uma vez por semana, se tanto, apesar de me não ficar em caminhos que percorra mas tão só à margem do que faço de casa para o café. Nem mesmo o deste é muito usado.
Provavelmente os custos de manutenção, aliadas às eventuais taxas de ocupação de solo, tornaram esta cabine telefónica, mais que uma fonte de rendimento, uma despesa inútil.
Já quase ninguém, se alguém, sabe o que são ou foram as “troncas”. As “meninas telefonistas” hoje, mais que mães, serão avós e reformadas. Das manivelas já nem falo e os próprios discos já só se encontram nos museus e feiras de velharias. Eu mesmo, que do telefone faço um uso menos que mínimo, já sou uma espécie em vias de extinção.
Pergunto-me que dirão os arqueólogos, daqui por dois mil anos, se encontrarem uma coisa destas.

Texto e imagem: by me

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