E uns trocos. Foi o
tempo que esperei para ser alvo de uma tentativa de roubo (tecnicamente furto)
nos transportes públicos.
Em boa medida, a
culpa foi minha. Já sabia que o eléctrico 28 de Lisboa é zona de ataque de
carteiristas, principalmente em dias de feira da ladra. Os jornais falaram do
assunto, os carros amarelos vão sempre cheios e até os comerciantes da Rua da
Conceição, na baixa lisboeta conhecem alguns deles.
E eu, só
parcialmente consciente da coisa, embarquei num, tendo a minha atenção concentrada
nos bolsos, deixando o resto tranquilo porque sabido seguro.
No entanto a dado
passo sinto um movimento menos comum na minha bolsa. Bolsa esta que transporta
o meu computador portátil, dos pequeninos, bem como um bloco notas, um livro e
mais umas miudezas de pouco significado.
Passado minutos,
poucos, senti mais que um movimento: senti, sem sombra de dúvidas, o trepidar
dos dentes do fecho ao ser aberto. Dei meia volta como pude no meio daquela
pequena multidão e apercebo-me de um cavalheiro, africano e de forte porte, bem
encostado a mim, com um sobretudo no braço.
Levando a mão ao
saco, constato que ambas as bolsas estavam abertas, coisa impossível de ter
sido eu a fazer. Azar de quem o fez, que mesmo eu tenho dificuldade em retirar
o conteúdo, de justa que está. Mas não gostei nem um nico.
Não podendo
provar, mas tendo a certeza do autor da proeza, espetei nele o meu olhar. Com
menos de meio metro entre narizes. Fugiu ele a olhar para mim, abanou um pouco
e saiu na paragem seguinte. Dúvidas houvesse e perdê-las-ia por completo.
O meu acto
seguinte foi dirigir-me à esquadra de polícia mais próxima, no caso na Praça do
Comércio. Ali contei a aventura. Não em termos de apresentar queixa, que nada
me faltava, mas porque o podia descrever e isso poderia ser útil a quem ali os
anda a caçar. Quem sabe se seria um novo “profissional” na zona?
Relato feito, com
descrição incluída, e chefe que me atendeu tratou de passar a palavra a quem
disso se encarrega. E ficámos um nico à conversa.
Fiquei eu a saber
que são meliantes difíceis de apanhar, já que só em flagrante ou com o produto
do furto na sua posse, o que eles evitam a todo o custo. E fiquei a saber que,
como em qualquer outra actividade, também os carteiristas dos eléctricos estão divididos
por zonas. De um ponto para cima são de uma origem étnica, daí para cima são de
outra. Consigo imaginar que, de alguma forma, mesmo entre carteiristas existam
códigos de conduta e territórios definidos. Quem sabe se pagarão uma taxa para
poderem exercer o seu mister.
Seja como for,
esta foi a primeira vez que tal me sucedeu. Em Lisboa, que em Barcelona sou vítima
regular, e até tenho o meu nome na polícia local, como queixoso.
E se aconteceu
desta vez foi porque, por uma vez, não entrancei os cordões dos dois fechos da
bolsa, como aqui se vê. Que desta forma são impossíveis de abrir por acaso. Aliás,
mesmo que de propósito me vejo em trabalhos quando o quero fazer rapidamente.
Fica o alerta para
os mais incautos.
E fica o aviso:
esta história nada tem a ver com origens ou cores de pele. Apenas e só com
honestidade! Que ela, e a sua falta, é transversal a todas.
Texto e imagem: by me
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