Com a idade
vamo-nos repetindo. Ou por falta de imaginação ou por termos encontrado expressões
válidas ou completas para as situações que vamos vivendo.
Tenho usado, desde
há anos, e uns milhares de vezes, a pergunta:
“Foi à tropa? Não!?
Mas se tivesse ido, certamente que seria atirador especial.”
Isto ao mesmo
tempo que olho para um enquadramento (fotográfico ou videográfico) que me
apresentam.
Esta pergunta, irónica
como se deduz, resulta de ver o centro de interesse da imagem bem no meio, bem
no seu centro. Por vezes, daria para o usar a descrever uma circunferência bem
simétrica às bordas da imagem.
Este tipo de composição
é, as mais das vezes, de evitar. Dizem as regras estéticas, bem como o
resultado de diversas pesquisas de opinião feitas por especialistas, que o
centro da imagem é um dos locais mais aborrecidos e com menos força de uma
composição e que, se nele colocarmos o assunto principal, ele perderá importância
perante outros elementos colocados em linhas fortes ou algures ao longo ou no
fim de uma linha de fuga.
Entendamos, no
entanto, algumas outras coisas.
1 – Estes conceitos
de estética ou de “agrado” generalizado são fruto de uma cultura, neste caso a
ocidental, nascida no extremo leste do Mediterrâneo. Outras culturas, com
outras origens e com outros desenvolvimentos, têm outras soluções. E, consequentemente,
outras “regras estéticas” e outros “agrados” generalizados.
2 – Tal como ouvi
a um ilustre mestre na minha juventude, “As regras existem para serem quebradas”.
E isto é válido na vida em geral e na comunicação visual em particular.
Usar o centro da
imagem, ou o centro de linhas verticais ou horizontais, para lá colocarmos
aquilo para onde queremos que o espectador olhe com mais intensidade (ou que
dali retire a principal mensagem da imagem) pode ser um erro. Mas sendo que
isso é ditado pelas “regras”, invertê-las ou subvertê-las pode ser uma forma
adicional, pelo incómodo, de chamar a atenção para um dado pormenor. São
abordagens de excepção mas que, se bem usadas, são de eficácia comprovada.
3 – Por muito
importantes que possam ser as regras de composição, tão ou mais importante é o
autor sentir-se realizado com o que cria. O ponto seguinte, mas só o seguinte,
será o de conseguir ou não comunicar com os demais humanos. E isso depende, p’la
certa, do contexto cultural em que se concebe a imagem e em que ela é vista.
Porquê de tudo
isto?
Bem, um destes
dias sugeria a alguém que fizesse uma fotografia de mim, comigo bem ao meio. O
objectivo desse pedido pouco ou nada tinha de estético, mas tão só um exercício
de técnica de exposição.
A pessoa em questão
franziu o nariz e comentou “Ao meio?!”
Entendo-a! Estamos
tão agarrados a regras e estereótipos estéticos, que fazer algo que saia do
habitual, daquilo que nos ensinaram e daquilo que vamos vendo no cinema, na
imprensa, na TV, incomoda e quase que é um insulto ao nosso próprio sentido estético.
Faz falta, no
entanto, de quando em vez esquecer o que aprendemos, o que a sociedade nos impõe
como “correcto”, e avançar noutras linhas, com outras abordagens. As que nos
apetece fazer ou, propositadamente, furando as convenções.
Porque é a partir
daí – só a partir daí – podemos com todas as certezas, saber aquilo de que
gostamos e aquilo que queremos realmente fazer.
Que liberdade não é
palavra vã nem aplicável apenas a conceitos políticos ou sociais. Mas, e tal
como nestes aspectos, também começa dentro de nós e nunca decretada por leis e
lentes ou imposta por hábitos ancestrais.
Texto e imagem: by
me
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