Em
regra, os fotógrafos andam de um lado para o outro, em busca do melhor assunto,
da melhor paisagem, para fazerem a sua arte.
Alguns
desses trabalhos são de cortar a respiração.
Eu
gostava de ser assim: de poder ir para onde me apetecesse, fotografar aquilo
que quero, sabendo que irei encontrar a luz boa de que gosto sobre assuntos que
me cativam.
Mas
não posso. Por este ou por aquele motivo não posso. Tempo para as deslocações,
forma de me deslocar, custos… não posso.
Vai
daí, aos poucos, encontrei uma outra forma de fazer fotografia. Não será espectacular,
não será de cortar a respiração com as luzes, cores, paisagens ou modelos… mas
asseguro que correspondem ao meu estado de alma no momento em que a faço e no
momento em que a trato.
Por
vezes estou num qualquer lugar, banalíssimo, como uma paragem de autocarro, ou
a tomar café ou mesmo num momento de higiene interior. E, de súbito, tenho
aquela vontade de ilustrar aquele assunto que me assalta a alma. É um impulso tão
intenso quanto a vontade de fumar um cigarro. Ou mesmo bem mais animal: como o
de tossir. E até parece que rebento se o não fizer.
E
é neste momento que tenho o meu prazer imagético: onde estou, ou num raio
diminuto de 30 ou mesmo 100 metros, encontrar algo que corresponda ao que penso
ou sinto. E a forma de o fazer.
Muito
frequentemente isso é feito com uma câmara de bolso. Que me acompanha para onde
quer que vá, sempre pronta a ser usada, pese embora as limitações técnicas que
tem. Outras vezes, e tendo comigo a DSLR com todas as suas potencialidades, de
uma forma mais elaborada, sendo mais fácil brincar com a luz, quer criando ou
recriando ambientes, que usando-a para realçar este ou aquele aspecto.
Depois,
há o jogo da perspectiva: de que forma, em função de uma dado pensamento, e
dependendo do assunto e das potencialidades técnicas do momento, consigo eu
fazer o registo que quero? E quantas vezes, não o sendo possível na altura do
disparo, faço-o na mesma sabendo que terei – e como – que o alterar depois para
obter o que quero.
E
esse depois também é divertido.
Em
estando eu tranquilo, sem pressas ou pressões, acontece umas horas mais tarde,
em frente do computador que tenho em casa. Dois bons ecrãs (por vezes três)
rapidez no processamento, luz ambiente controlada em termos de intensidade,
incidência nos ecrãs e cor, o conforto da minha cadeira… tudo como eu o quero.
Outras,
a pressa em acabar o que me vai na alma não se conforma com essa espera. E
recorro ao meu portátil. Ecrã pequeno, com uma superfície que reflecte com
facilidade a luz ambiente, adulterando contrastes e cores. Sentado num jardim,
no treme-treme do comboio, acabado de entrar num café, entre dois momentos de
trabalho… é onde me apetece e como o consigo fazer.
Não
são obras-primas, nem sequer merecem ser expostas numa parede. Por vezes nem
mesmo numa rede digital.
Mas
uma coisa eu garanto: de um modo ou de outro, divirto-me encontrando soluções
fotográficas onde quer que seja, com o que quer que seja.
Mesmo
não indo longe, em busca das paisagens, modelos e luzes de cortar a respiração.
Talvez
que eu não seja um fotógrafo, mas antes um iconógrafo. Que o que produzo são ícones
do que me vai na alma.
By me
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