Há
ocasiões em que, pelo adiantado da hora ou pelas condições climatéricas, opto
por apanhar um táxi que me leve da via férrea até casa. Pequenos luxos que,
muito provavelmente, terei que deixar de parte, dadas as circunstâncias.
Sendo
uma estação suburbana onde o faço, não tem grande quantidade de carros disponíveis.
Quase que é uma corrida: os primeiros a desembarcar servem-se, os seguintes
ficam à espera que surja um livre. Ou um dos que lá estavam que regressa, ou um
qualquer outro que ali passe. Em regra, o primeiro caso.
Ontem,
noite dita especial, não foi excepção.
Quando
desembarquei estavam três táxis. Eu fui o quinto a chegar: à minha frente uma
senhora, atrás de mim dois rapazolas transportando um saco onde se viam
garrafas de espumante. Atrás deles um cavalheiro, também com um saco, mas que não
deveria conter nem comes nem bebes.
Deixei-me
ficar, que com aquele movimento, acabaria voltar um. Assim foi e a senhora
avançou. Com uns passos meio tímidos, meio atrevidos dos rapazolas, que o queriam
para eles.
Não
me contive, e disse-lhes: “Aquela senhora já cá estava. E vocês chegaram a
seguir a mim.”
“Ah,
sabe”, disse um deles. “Nós temos pressa. Temos onde chegar cedo!”
Nem
olhei o relógio. As onze da noite ainda não haviam batido.
“Certo!
Mas estiveram vocês a trabalhar desde manhã cedo? Eu estive e já mereço uma
cama.”
No
silêncio que se fez, e porque não havia vento, ouvir-se-ia o comboio duas estações
adiante, se estivesse a chegar lá.
Pelo
rabo do olho e sob as parcas luzes daquele largo da estação, vi o sorriso que o
outro cavalheiro fez, sem emitir palavra.
Quando
fechei a porta do meu táxi, meio cigarro depois, ainda vi o chegar de mais um.
A
relatividade do tempo é uma das verdades do universo. E quem ainda tem pouco
tempo de vida parece ter sempre medo de ser apanhado a meio pelo fim dos
tempos. Ou do ano.
E
uma pequena mentirita inocente ajuda sempre a compor o ramalhete ou a
cronologia.
By me
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