sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Mezinhas



Aprendi isto com um velho parente, falecido há muito.
Trabalhava ele numa estamparia e serigrafia e estava encarregue das artes gráficas.
Para além dos desenhos por ele criados e do tratamento que dava aos que lhes eram trazidos pelos clientes, era também ele que se encarregava de todo o processo de abrir os quadros de seda que haveriam de permitir a impressão das tintas. E isso implicava técnicas de fotografia e laboratório, de muito rigor, incluindo o trabalho de retoque. Aquilo que hoje se faz em minutos num computador, levava então horas, quando não dias, a fazer.
E era também ele que tratava de fazer os químicos que usava.
Nada de comprar as fórmulas já feitas. Nem pensar. Comprava a hidroquinona, o bórax, o metol, óxido de prata e o que mais fosse necessário e misturava-os ele, seguindo ou não a fórmula original de acordo com as necessidades: sensibilizar as sedas, positivos, fotolitos…
Passei eu lá, nessa fábrica, algumas semanas de verão, em vários anos, agarrado à guilhotina a cortar galhardetes, etiquetas e o mais que ali se fazia, para ganhar uns trocos para as férias. E, nos entretantos, ia aprendendo este ou aquele truque do ofício.
Um deles referia-se a um mal de que muito boa gente sofre nesta altura do ano e que não sabe bem como tratar: frieiras.
Pois contou-me esse parente que para tratar as frieiras (sem ferida aberta) nada como revelador de película, já gasto.
Faz-se uma “boneca” com algodão e gaze, embebe-se nesse líquido e, gentilmente, vai-se aplicando nas zona a tratar. Deixa-se assim ficar uns quatro a cinco minutos, após o que se deve lavar bem com água tépida e sabão. Uma vez de manhã, outra à noite. Em três a quatro dias está o assunto resolvido.
Nunca precisei eu de tal remédio. Frieira é “coisa que não me assiste”.
Mas recomendei a várias pessoas e, das que tinham acesso a revelador, disseram-me que funciona.
Mezinhas antigas, artesanais, sem haver que recorrer a médico ou curandeiro. Com a grande vantagem de reciclar os químicos usados. Ou, pelo menos, dar-lhes mais um uso antes de serem descartados.

Não creio que hoje as frieiras se curem com cartões de memória ou macros de photoshop.

By me 

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