Tudo
tem uma história e uma estória. Mesmo que um humilde capacho doméstico.
Há
uns tempos, não muito, mudou-se aqui para o prédio um casal. Mesmo no meu
andar.
Tendo
assistido a parte da mudança, feita com recurso a um carro pequeno, fiz como
sempre: perguntei-lhes se precisavam de ajuda, fosse no que fosse.
Eu
sei que a preparação do “ninho” é algo de pessoal. Mas também sei que um par de
mãos extra, uma ferramenta de emergência, ou mesmo um candeeiro, nessas ocasiões
faz toda a diferença.
Mas
não foi necessário, e agradeceram-me com um sorriso largo.
Passado
algum tempo, umas semanas, oiço num início de noite, uma restolhada pouco comum
no patamar da escada. E fui ver.
Esse
meu vizinho andava numa fona, revolvendo as portas dos diversos contadores,
resmungando feio.
Perguntado,
contou-me que lhe haviam roubado o capacho. Este.
E
acrescentou que, para além da falta óbvia, estava chateado porque fora oferta
da filha. Um ou dois impropérios pronunciados não foram demais.
Uns
dias depois, já não garanto quantos, constato que o dito capacho estava de
volta. Estranhei e, em podendo, questionei a senhora que faz por cá a limpeza da
escada. Afinal, ela lida com os capachos de todos: este e o meu, que nada
sofreu.
Contou-me
ela que tinha sido encontrado numa outra porta, uns andares acima. E que estavam
quase todos trocados. Entre portas e entre andares. O meu fora dos que
escaparam.
Acrescentou
que havia a suspeita de terem sido uma fulanas, que tinham andado no prédio a
pedir, que haviam feito as trocas e baldrocas. Que trabalheira, para uma
eventual vingança.
O
meu capacho é velho. Bem velho. Vai-se aguentando, mas é velho.
Se
um dia o tiver que substituir, p’la certa que não será por um como este. Que
corro o risco de com ele estar mentir.
Imagine-se
que me aparecia aqui um cobrador. Ou um gatuno. Ou, bem pior, alguma figura publica
da política nacional.
Tenho
muitos defeitos mas não costumo mentir, nem nas boas-vindas.
By me
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