quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Triste gentinha



Fim do dia, hora de ponta nos regressos a casa. Rodoviários e ferroviários. Estação do Oriente. Comboio para Alcântara, que passa a cada meia hora.
O maquinista já tinha apitado, já se tinha ouvido o aviso de fecho de portas e estas já tinham fechado. Apenas não havia iniciado a marcha.
Chega ao cais de embarque uma senhora, ofegante de subir as escadas a correr. Prime o botão de abertura, naturalmente inactivo, até que vermelho.
Encolhe os ombros desiludida. Creio que qualquer um ficaria, por perder por segundos algo se só se repetirá meia hora depois. Mais para mais no fim do dia, sabe-se lá com que compromissos a cumprir.
Ouve-se o silvo de libertar as portas, o degrau desce (era a carruagem motora de uma composição de dois andares) e o botão fica verde.
Logo a senhora o prime, a porta abre e ela sobe. Lesta e satisfeita, presumo, que não lhe vi a cara.
Tal como não vi um qualquer gesto de agradecimento ao maquinista que, p’la certa, acompanhava a situação p’lo espelho retrovisor. Coisa nenhuma. De uma ingratidão a toda a prova.
Sorte a dela!
Viajasse eu neste comboio e tivesse eu assistido do interior ao que assisti do cais e, na paragem seguinte, correria com ela para fora do comboio. E ali haveria de esperar p’lo seguinte, por muito que barafustasse ou outros passageiros interviessem.
Mas com o respectivo recado: um gesto de agradecimento custa zero, menos que os saldos ou as compras low cost, tão na moda. E é um incentivo para que, de uma próxima vez, o maquinista repita o que fez. Talvez que, agora, não lhe apeteça.


Tenho apenas duas certezas na vida: que morrerei e que ninguém escreverá na minha lápide fúnebre “Aqui jaz um tipo de bom feitio”.

By me

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