Fim do dia, hora de
ponta nos regressos a casa. Rodoviários e ferroviários. Estação do Oriente.
Comboio para Alcântara, que passa a cada meia hora.
O maquinista já
tinha apitado, já se tinha ouvido o aviso de fecho de portas e estas já tinham
fechado. Apenas não havia iniciado a marcha.
Chega ao cais de
embarque uma senhora, ofegante de subir as escadas a correr. Prime o botão de
abertura, naturalmente inactivo, até que vermelho.
Encolhe os ombros
desiludida. Creio que qualquer um ficaria, por perder por segundos algo se só
se repetirá meia hora depois. Mais para mais no fim do dia, sabe-se lá com que
compromissos a cumprir.
Ouve-se o silvo de
libertar as portas, o degrau desce (era a carruagem motora de uma composição de
dois andares) e o botão fica verde.
Logo a senhora o
prime, a porta abre e ela sobe. Lesta e satisfeita, presumo, que não lhe vi a
cara.
Tal como não vi um
qualquer gesto de agradecimento ao maquinista que, p’la certa, acompanhava a
situação p’lo espelho retrovisor. Coisa nenhuma. De uma ingratidão a toda a
prova.
Sorte a dela!
Viajasse eu neste
comboio e tivesse eu assistido do interior ao que assisti do cais e, na paragem
seguinte, correria com ela para fora do comboio. E ali haveria de esperar p’lo
seguinte, por muito que barafustasse ou outros passageiros interviessem.
Mas com o
respectivo recado: um gesto de agradecimento custa zero, menos que os saldos ou
as compras low cost, tão na moda. E é um incentivo para que, de uma próxima
vez, o maquinista repita o que fez. Talvez que, agora, não lhe apeteça.
Tenho apenas duas
certezas na vida: que morrerei e que ninguém escreverá na minha lápide fúnebre “Aqui
jaz um tipo de bom feitio”.
By me
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