A
minha relação com a roupa é relativamente simples: uso-a até que eu já nela não
caiba ou que fique rota.
Nessa
altura dou-lhe o destino habitual: o fundo de um armário durante uns tempos até
que, estando já cheio, faço uma limpeza e vai tudo fora. Lixo.
Os
meus afectos com a roupa são simples: têm que me servir, têm que ser confortáveis
e, no caso de casacos e coletes, têm que possuir bolsos quanto baste para a
tralha que costumo trazer comigo. Não creio que, até à data, tenha encontrado a
peça perfeita.
O
mesmo se passa com o corpo. Vou-o usando enquanto me servir. Quando tal já não
suceder, ou porque nele não caibo ou porque esteja já demasiado roto, o melhor
mesmo é deitá-lo fora. Nem precisa ir para um armário: pode ir directamente
para o lixo para poupar tempo e esforço.
Que
o que importa não é a roupa ou o corpo mas sim o que deles fazemos, o uso que
lhes damos. E ser demasiado chegado a algo que sabemos, sem margem para erros,
que um dia deixará de servir… é um esforço afectivo demasiado grande.
Em
morrendo, espero que me façam exactamente o mesmo que faço com a roupa: fora,
que já não presta!
Que
o que importa em mim não é, garantidamente, a roupa que uso ou o corpo que
tenho.
Quanto
ao resto, se alguém tiver a infeliz ideia de me fazer alguma honraria, tratem
de a fazer ao que fiz e sobreviveu, material ou imaterial. Que se isso não
tiver valor não será o corpo, qual camisa velha, que o terá.
By me
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