Este
meu parente, que sempre conheci por Tio Artur, foi uma figura ímpar a vários títulos.
Pelos menos naquilo que dele sei.
Tendo
sido motorista de uma importante casa particular, pertencia àquilo que, na época
remota em que foi, se pode chamar a elite dos serviçais. E ao sei, devido a
isso viajou em serviço um pouco por toda a Europa.
Tive
o raro privilégio de ainda o ter conhecido antes de falecer. E dele recordar
alguns episódios. Uns presencialmente, outros ouvidos na família.
Um
deles refere uma agenda.
Tinha
ele uma agenda grande, de secretária, com capa de couro. Que, todos os Janeiros,
copiava laboriosamente o seu conteúdo para a do novo ano.
E
tinha ele uma rotina diária, mesmo depois de já idoso e reformado: antes de
sair de casa, de manhã, consultava-a. E descia depois a rua até à esquina, onde
fica a estação de correios.
Daí
enviava um telegrama de parabéns a quem nesse dia aniversariava e que constasse
na sua agenda. Mesmo que não o visse há cinquenta anos.
Nos
tempos que correm este hábito ficou. Não com recurso a telegramas (nem sei se
ainda existem), mas porque as redes sociais e as agendas electrónicas tornaram
o hábito de felicitar alguém no seu aniversário numa rotina banalizada. Impessoal,
que bastam umas linhas formais entre dois golos de café para o cumprir. E
acontece entre gente que, muito frequentemente, nem nunca se encontrou fisicamente
e com quem se mantêm relações virtuais. Impessoal, frio e gratuito.
Se
fosse vivo este meu Tio Artur teria, há muito, ultrapassado a barreira dos cem
anos. E não sei a sua data de nascimento.
Em
qualquer dos casos, aqui ficam os meus votos de feliz aniversário.
By me
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