quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Aniversário



Este meu parente, que sempre conheci por Tio Artur, foi uma figura ímpar a vários títulos. Pelos menos naquilo que dele sei.
Tendo sido motorista de uma importante casa particular, pertencia àquilo que, na época remota em que foi, se pode chamar a elite dos serviçais. E ao sei, devido a isso viajou em serviço um pouco por toda a Europa.
Tive o raro privilégio de ainda o ter conhecido antes de falecer. E dele recordar alguns episódios. Uns presencialmente, outros ouvidos na família.
Um deles refere uma agenda.
Tinha ele uma agenda grande, de secretária, com capa de couro. Que, todos os Janeiros, copiava laboriosamente o seu conteúdo para a do novo ano.
E tinha ele uma rotina diária, mesmo depois de já idoso e reformado: antes de sair de casa, de manhã, consultava-a. E descia depois a rua até à esquina, onde fica a estação de correios.
Daí enviava um telegrama de parabéns a quem nesse dia aniversariava e que constasse na sua agenda. Mesmo que não o visse há cinquenta anos.

Nos tempos que correm este hábito ficou. Não com recurso a telegramas (nem sei se ainda existem), mas porque as redes sociais e as agendas electrónicas tornaram o hábito de felicitar alguém no seu aniversário numa rotina banalizada. Impessoal, que bastam umas linhas formais entre dois golos de café para o cumprir. E acontece entre gente que, muito frequentemente, nem nunca se encontrou fisicamente e com quem se mantêm relações virtuais. Impessoal, frio e gratuito.

Se fosse vivo este meu Tio Artur teria, há muito, ultrapassado a barreira dos cem anos. E não sei a sua data de nascimento.

Em qualquer dos casos, aqui ficam os meus votos de feliz aniversário.

By me 

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