segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

A propósito desta fotografia



Fiz esta fotografia há uns dias.
Nada tem de especial, admita-se: nem a luz, nem a gestão de espaço – vulgo enquadramento -, nem a pose, nem mesmo a perspectiva. Apenas que, estando em estado febril, antecipando uma eventual gripe, não me apeteceu fazer melhor. Ou melhor, não me apeteceu ter o trabalho de a fazer melhor.
Um ou dois dias depois, e na falta de melhor inspiração, publiquei-a. Mais por rotina ou vício que por a achar digna de figurar em qualquer catálogo de imagens sofríveis.
De entre os vários comentários que lhe foram feitos, quase todos simpáticos e desejando-me “as melhoras”, evidenciou-se um, do seguinte teor:

“Para quem não gosta de ser fotografado até que nem está mal.”

O seu autor foi por mim confrontado, há tempos, pelo facto de estar a fazer (ou em vias disso) fotografias da minha pessoa no meu local de trabalho. Não era eu o assunto principal das imagens, bem pelo contrário, mas constaria nelas sem margem para erro.
Disse-lhe então o que pensava, ainda que moderado no tom e nos vocábulos. Não havia tempo nem era o local nem o público para grandes explicações.
Agora deixei-lhe uma resposta. Igualmente moderada no tom e nos vocábulos. Tão sintética quanto o possível, que sabemos que quem lê na net raramente presta atenção a mais de meia dúzia de linhas, se tanto.

“Entenda-se que nada tenho contra o ser fotografado, excepto:
A) Contra minha vontade e/ou conhecimento. Faz parte da minha praxis enquanto photógrapho, com excepções muito bem definidas e balizadas, e se o pratico com os demais exijo-o para comigo.
B) No local de trabalho. As excepções ao longo de 35 anos foram menos de meia dúzia, sempre muito bem justificadas por mim e por causas que entendi serem muito superiores ao meu interesse privado ou modéstia.
Quanto ao resto, um fotógrafo que não saiba o que é ser fotografado e/ou dirigido por outro, dificilmente pode saber fotografar ou dirigir terceiros.”

A próxima conversa sobre este tema que possa vir a ter com esta pessoa, que de algum modo partilha espaços comigo, versará códigos de conduta, ética, lei fundamental e lei avulsa.

É que, e por muito que nos queiramos esquecer disso, a posse de uma câmara, mais que nos dar direitos, impõe-nos deveres.

By me

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