sábado, 3 de novembro de 2012

Ilustrando um texto de uma forma soft




“…
A obra de Arbus é um bom exemplo de uma tendência da arte nos países capitalistas: suprimir, ou, pelo menos, reduzir os escrúpulos sensoriais e morais. Uma grande parte da arte moderna tem-se consagrado a baixar o limiar do que é considerado terrível. Ao habituar-nos ao que, anteriormente, não suportávamos ver ou ouvir, por ser demasiado chocante, doloroso ou embaraçoso, a arte modifica a moral, esse corpo de hábitos psíquicos e sanções públicas que estabelece uma vaga delimitação entre o que é emocional e espontaneamente intolerável e o que não é. A supressão gradual dos escrúpulos aproxima-nos de uma verdade bem mais formal: a da arbitrariedade dos tabus construídos pela arte e pela moral. Mas a nossa capacidade de digerir o grotesco, cada vez mais evidente, nas imagens (fixas ou em movimento) e na imprensa, tem um preço elevado. A longo prazo, funciona não como um libertação, mas antes como um enfraquecimento do eu: uma pseudofamiliaridade com o horrível reforça a alienação, diminuindo a capacidade de reacção na vida real. O efeito provocado pela primeira visão de um filme pornográfico ou pelas atrocidades mostradas na televisão não é muito diferente do efeito provocado pela primeira visão das fotografias de Arbus.
…”

Texto by Susan Sontag, in “Ensaios sobre fotografia”, 1977
Imagem by me

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