Certas
conversas ou temas cedo me levam a transforma-las em discussões, acesas e
incisivas. Outras vezes, os mesmos temas pouco mais fazem com que eu abandone a
argumentação ou mesmo o local, na inutilidade de esgrimir ideias com certas
mentes.
Um
desses temas é a frase batida “Os sindicatos não prestam!”
Quem
assim argumenta, define um sindicato como uma entidade abstracta e autónoma,
com vida própria e quiçá personalizada nos seus dirigentes.
Mas
aquilo que se esquece quem assim protesta, é que um sindicato mais não é que
uma associação de pessoas (as mais das vezes assalariados) que os representa. E
que os seus dirigentes são fruto de eleição ou contratação, consoante o país e
as suas regras. E que a força de um sindicato é tanto maior ou menor quanto a
força que os seus associados lhe derem!
O
mesmo se passa com um país. Funciona bem ou mal em conformidade com as atitudes
dos seus naturais.
Supondo
que se trata de uma democracia (e mesmo que não o seja) os seus governantes
são-no porque de alguma forma foram escolhidos e/ou tolerados pelos cidadãos.
As decisões e linhas de rumo tomadas pelas cúpulas de um país reflectem, de
alguma forma, a maneira de pensar e actuar dos seus eleitores.
Dizer
que este ou aquele governante não presta ou que o povo é bera, é uma forma de
alijar as responsabilidades que cabem a cada um dos que nele habitam. É passar
o ónus da culpa para uma entidade abstracta, dando a entender que quem faz
essas afirmações não apenas não é responsável pelo resultado das escolhas do
colectivo como ainda que está à parte do povo, não fazendo parte dele.
Na
actual fraseologia política, caiu em desuso a expressão “luta de classes” ou a
relação “esquerda/direita”.
Fala-se
em esquerda moderna, em liberalismo ou neo-liberalismo, em objectivos
tendenciais e competitividade.
O
conceito de “patronato” e “proletariado”, “classe dominante” e “classe
dominada” são hoje “politicamente incorrectos” e poucos são os que os usam.
Em
troca nasceram a “sociedade civil”, a “classe política”, os “pequenos
empresários”, os “trabalhadores por conta de outrem”, as “famílias”…
Mas,
na prática, o que mudou foi apenas a nomenclatura.
Continua
a existir quem queira mandar e mande e quem seja mandado e isso o permita! Os
“grandes” continuam a sê-lo e os “pequenos” são-no cada vez mais.
Mas
uma coisa é certa: os grandes só são grandes enquanto os demais estiverem de
joelhos.
É
que, quando mortos, vamos todos deitados e com a mesma altura.
Imagem:
“Nazaré, Portugal”, by Peter Fink, 1954
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